OS SACIS

Ziraldo

    Brasileiros porque nasceram aqui. Ainda que de pais estrangeiros, foram acolhidos pela nossa nação, historicamente inclusiva. Os Tupi-Guaranis foram os primeiros a se depararem com essa entidade e são portanto as fontes primárias das histórias que há tantos anos são contadas no sudeste da América do Sul.
    A origem indígena do Saci pode ser corroborada pela correspondência com outras lendas semelhantes na cultura de povos originários de países fronteiriços ao Brasil. No Paraguai, Argentina e Uruguai, os guaranis falam de Yasí Tere (ou Yasy-Ateré). Seria uma espécie de anão, que desorienta os viajantes, sequestra crianças e moças e possui uma varinha ou bastão mágicos.


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    No Brasil, ainda segundo a tradição oral tupi, os sacis surgiram em nossas selvas e florestas após a vinda dos europeus e dos escravos que trouxeram da África. No século XIX, após a independência, as narrativas e citações ao(s) Saci(s) espalharam-se por todo o país. Nessa expansão ganhou outras características, como o gorro vermelho (influência europeia) e a ausência de uma perna, que não lhe faz falta é verdade, mas cuja explicação encontra uma simbologia mágica que o torna mito.

    Chegando ao século XX o Saci virou celebridade nacional. Estreou na literatura, em 1921, no livro “O Saci” de Monteiro Lobato onde o personagem Tio Barnabé, fez uma célebre descrição dessa figura:   

 "O saci é um diabinho de uma perna só que anda solto pelo mundo, armando reinações de toda sorte [...] Azeda o leite, quebra a ponta das agulhas, esconde as tesourinhas de unha, embaraça os novelos de linha, faz o dedal das costureiras cair nos buracos, bota moscas na sopa, queima o feijão que está no fogo, gora os ovos das ninhadas [...].
Tudo que numa casa acontece de ruim é sempre arte do saci. Não contente com isso, também atormenta os cachorros, atropela as galinhas e persegue os cavalos no pasto, chupando o sangue deles. O saci não faz maldade grande, mas não há maldade pequenina que não faça."

    Desenhos, cartuns tiras, os Sacis figuraram em populares publicações. Em 1958 Ziraldo produziu a primeira história em quadrinhos sobre o Saci, A Turma do Pererê, publicada originalmente na Revista O Cruzeiro, e posteriormente em diversas publicações. O Saci também está presente em diversas histórias da Turma da Mônica, de Maurício de Sousa.

    Depois de passar pelo cinema e pela TV, de virar mascote de time de futebol, de decorar festas de aniversário infantil. Hoje o saci e toda sua brasilidade, estão na internet. Com a redução de nossas matas acho que alguns já migraram ultrapassando fronteiras e chegando a outras partes do  continente. Saci dispensa passaporte, virando vento ou fumaça ele vai onde quiser. Na ausência da luz solar ninguém o vê ou o escuta, se ele não quiser. Mas ninguém está livre de suas traquinagens ou das consequências de suas artes por ai, principalmente quem mora perto de um taquaral que é onde eles nascem.

Professor Fábio Freitas


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