O MUNDO GREGO

    

Do ponto de vista geográfico, podemos dizer que a Europa não
passa de uma península localizada no oeste da Eurásia, ao norte da África, separada dela pelo mar mediterrâneo. É uma região aproximadamente do tamanho do Brasil. Apesar de relativamente pequena, fato é que na era moderna tornou-se o centro do mundo expandindo sua cultura, suas tecnologias e modo de vida pelo mundo, ao mesmo tempo que abriu os caminhos do que chamamos hoje em dia de globalização, promovendo intercâmbios culturais por todos os continentes do planeta.

Essa história de sucesso da Europa começa na antiguidade com a Grécia antiga, que foi a primeira grande civilização europeia, ou seja, o primeiro povo a edificar grandes cidades naquele continente. Para iniciar uma breve apresentação da primeira grande cultura urbana europeia, que influenciou decisivamente os povos que os sucederam histórica e cronologicamente no povoamento daquele velho continente, algumas observações são pertinentes:

Primeiro os gregos não se chamavam de gregos, quem passou a defini-los assim foram os romanos, que aliás os admiravam muito. Os gregos antigos chamavam-se a si mesmos de Helenos e chamavam o território que habitavam de Hélade. Esse território concentra-se basicamente no entorno do Mar Egeu, constituído por dezenas de ilhas entre as quais a maior, a ilha de Creta, considerada o berço da civilização grega.

Devido a localização, percebe-se que a cultura grega (ou helênica) foi fortemente marcada por uma vida marítima (talvez muito influenciada pela cultura fenícia) e que navegando povoaram não só o sul da península balcânica (atual Grécia) como a costa da Península da Anatólia (atual Turquia), e posteriormente ultrapassando os limites do Egeu povoaram territórios litorâneos do Mar Negro e do Mar Jônio fundando cidades no sul da península itálica, chegando até a ilha da Sicília, territórios chamados por eles de Magna Grécia.

Portanto o mundo grego antigo era bem extenso e dizemos geograficamente bem acidentado, isto é, repleto de montanhas e relevos irregulares que se por um lado dificultavam as atividades agrícolas convencionais e a criação de animais como cavalos e bovinos, abriam possibilidades para cultivos alternativos como as oliveiras, as videiras e a criação de cabras.

Outra consideração inicial importante é que esse mundo grego antigo caracteriza-se por uma descentralização política, sendo constituído por cidades-estado denominadas por eles de pólis, ou seja, a Grécia antiga não era um império, não tinha uma capital nem um imperador que unificasse o comando de todos as populações helênicas. O que existia entre essas pólis era uma unidade cultural, isso significa basicamente que falavam a mesma língua, dividiam as mesmas crenças religiosas, compartilhavam costumes, hábitos e tradições. Justamente essa cultura grega, repleta de criações e realizações, foi o que sempre despertou interesse e continua gerando grande fascínio em outras culturas.

O teatro, a literatura, a mitologia, a arte de maneira geral bem como a amplitude do pensamento grego continuam ligados ao nosso cotidiano. Prova disso são as Olimpíadas modernas e o próprio culto ao corpo. O culto ao corpo, percebida na escultura grega, era também evidente nos jogos Olímpicos originais, onde os atletas competiam nús. Dessa prática vem a palavra ginástica que em grego significa simplesmente exercitar-se nú.

Teatro, Olimpíadas, atleta, ginástica, assim como democracia, filosofia, antropozoomorfismo, arqueologia, cerâmica, monarquia, hierógrafos, Mesopotâmia, poligamia, e historiografia, são todas palavras gregas criadas para descrever e entender melhor o mundo. Essas e tantas outras palavras que incluem nomes próprios como Alexandre, Heitor, Sofia, Larissa, Lucas, Pedro e por aí vai, são palavras helênicas usadas até hoje em dia.

Pensadores gregos antigos são frequentemente lembrados como precursores de muitas áreas do conhecimento científico contemporâneo. Arquimedes, aquele que saiu gritando pelado: "eureka, eureka", teria descoberto que dois corpos não ocupam ao mesmo tempo o mesmo lugar no espaço. Esse seria um dos primeiros princípios da física, numa época que nem existia física. Para os gregos, na verdade, tudo era motivo para filosofar.

Pelo que sabemos o grego Hipócrates foi o primeiro a olhar para um homem tendo um ataque epilético e dizer: “Não há nenhum deus aí dentro; é um fenômeno do corpo desse indivíduo”. Todos os outros povos da antiguidade davam uma explicação mística para doenças como a epilepsia. Viam em deuses e demônios os causadores de convulsões e crises de perda de memória. Hipócrates afirmava que todas as doenças possuíam uma causa natural não devendo ser encaradas como punições divinas ou qualquer outra crueldade diabólica.

A atitude de Hipócrates frente a fenômenos como a epilepsia demonstra uma característica fundamental da cultura grega, a ideia de que o mundo é regido por leis da natureza e não por entes sobrenaturais cheios de caprichos. Entre tantos feitos, o desenvolvimento de um pensamento questionador, investigativo e experimental foi uma das principais contribuições do mundo grego para o futuro da humanidade.

Um outro grego, igualmente antigo e famoso foi Heródoto que viajou o mundo conhecido da época para documentar fatos e colher depoimentos sobre o passado, criando um método investigativo para combater o esquecimento e preservar para as gerações futuras os feitos e as glórias dos homens de seu tempo. Numa época em que os meios de transporte eram extremamente rústicos, Heródoto não mediu esforços para visitar lugares bem distantes de sua terra natal, (a pólis de Halicarnasso, atual Turquia) como o Egito, a Babilônia, a Síria e a Macedônia. Seus registros citam “maravilhas” arquitetônicas (estátuas e construções grandiosas) que ele encontrou por onde passou e que deveriam ser visitados por todos, dada a beleza que tinham. Os registros de Heródoto narram ainda batalhas entre gregos e persas.

Aliás, o preparo e a destreza militar foram outros dos fatores que fizeram a fama dos gregos antigos. Criadores da luta em formação, fizeram muito sucesso nos campos de batalha, o que lhes forneceu mão-de-obra escrava em números nunca vistos em sociedades mais antigas que a sua. A grande exploração do trabalho escravo no mundo grego também é vista como uma das razões do desenvolvimento do pensamento naquela cultura, afinal o cidadão grego podia dedicar seu tempo para aperfeiçoar o corpo e a mente, enquanto escravos realizavam o trabalho necessário à garantia da subsistência das pólis.

 

Nenhum comentário: