O ESTADO ATUAL DA IMPLEMENTAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO NA EDUCAÇÃO

    Ressalto que a presente análise parte de um trabalhador em educação (professor) inserido na realidade das salas de aula, no chão da escola como dizemos. Não é uma opinião de alguém que está de fora do trabalho concreto com a educação e especula sobre o que considera mais eficaz para melhorar a qualidade da educação, algo muito comum e corriqueiro.

    A pandemia da COVID-19 acelerou as novas medidas e em certa medida salvou a educação de um colapso total ao implementar a “educação remota” como alternativa as aulas presenciais em meio as políticas de distanciamento social. Em meio a esses eventos empresas como a Google e seu Classroom surgiram oferecendo suas soluções e tecnologias educacionais que adentraram com vigor na vida das escolas.

    A implementação padronizada de novos recursos tecnológicos implica também no boicote ao exercício da autonomia administrativa e pedagógica das Escolas cada vez mais engessadas em procedimentos ditados pelas plataformas impostas as escolas.

    Não sei se é característica só do Brasil, “o país do futebol”, onde qualquer um opina sobre a escalação e até sobe o esquema tático do seu time de preferência ou sobre a convocação para a seleção, mas opiniões externas sobre como deveria ou poderia funcionar a educação, bem como sobre o que e como deveria ser ensinado, abundam de fora do ambiente escolar.

    Recentemente ouvi um economista dizer que se fosse ministro da educação colocaria Educação Financeira como uma disciplina obrigatória nos currículos escolares. No mesmo sentido já escutei de um programador que se dependesse dele Algoritmos seriam ensinados aos estudantes desde as mais tenras idades. Mal sabem esses e tantos outros propositores de mudanças significativas para a educação que nossos estudantes tem dificuldades desde a alfabetização até a ortografia, sem aprender a básica regra de três e tantas outras deficiências que alongariam demais esse texto.

    Então imaginem quando um militar, um administrador de empresas ou um pastor assumem o cargo de Ministro da Educação. Não, não é preciso fazer grandes esforços imaginativos. Isso é o que temos vivenciado na educação brasileira. A maioria das normas, orientações e políticas públicas voltadas para a educação (em especial no Brasil que conheço) são elaboradas por pessoas alheias ao que de fato ocorre em nossas escolas.

    Assim surgiu, entre tantas outras exóticas ideias, a “informatização” das escolas. No início dos anos 2000 era interessante observar as campanhas eleitorais e as propostas de equipar as Escolas com computadores como solução para qualificar a educação. E a demagogia venceu (como de costume) com uma proliferação de implantação de laboratórios de informáticas nas escolas, os LABINFO’s, sem a necessária discussão com educadores e a qualificação de recursos humanos para a utilização das novas tecnologias.

    Hoje, passados mais de vinte anos, esses laboratórios, cheios de sucatas tecnológicas estão sendo transformados em “Salas (ou Espaço) Maker”. Se você não sabe o que é isso, saiba que a maioria dos professores também não sabem. Professores que deveriam ter sido chamados para discutir o assunto, não foram, como de praxe não são consultados para deliberar sobre a aprovação do que tem que praticar. Alguns, como o que vos fala, por esforço individual, tentam se apropriar do assunto para melhor desempenhar suas funções.

    A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da educação) aprovada em 1996, em seu artigo 80, instituiu a então inovadora modalidade de Educação a Distância. Em 2017 a lei nº 13.415, mais uma vez imposta de cima para baixo, provocou alterações na LDB e criou o Novo Ensino Médio, com ampliação da carga horária formativa para essa etapa da educação de 2.400 para 3.000 horas aulas, sendo que 20% dessa carga horária (600 horas que foi o que aumentou) para o ensino diurno e 30 % para o noturno podem ser realizadas nessa modalidade a distância, ou seja, com a utilização de plataformas educacionais e recursos pela internet.

    Assim, Educação a Distância não é mais apenas e tão somente uma modalidade de educação, mas parte integrante do próprio Ensino Médio como um todo.

    Mas mais uma vez, a falta de formação dos professores e em especial a falta de acesso de parcela significativa dos estudantes a esses recursos, seja em conectividade ou em equipamentos, gerou apenas um triunfo parcial das novas estratégias que resultaram mais em exclusão e déficit do que em sucesso. É fácil verificar  hoje quantos alunos usam ou sabem utilizar uma conta de e-mail. Estamos longe de uma porcentagem desejada.

    Em recente relatório, a UNESCO aponta que não existem evidências sólidas e imparciais de que a implementação de novas tecnologias educacionais tenham impacto positivo na educação. Na verdade os dados positivos do uso dessas novas tecnologias de informação e comunicação em sala de aula são levantados especialmente pelos que estão tentando vender essas tecnologias.

    Aqui cabe outra observação pertinente. Na aceleração da implantação de tecnologias educacionais estamos assumindo um papel de meros consumidores e estamos perdendo a oportunidade de desenvolver e aperfeiçoar, como nação soberana, nossos próprios recursos e tecnologias. Embora enquanto profissionais tenhamos o dever pedagógico de estimular o protagonismo dos estudantes, nos retiram o próprio protagonismo.


Para aprofundamento da questão deixo aqui alguns links:





e ainda uma tese de doutorado sobre a “uberização do trabalho docente

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