LIRAS PARA MARÍLIA

 Lira era um instrumento musical de cordas, utilizado pelos romanos para acompanhar declamações poéticas, acabou dando nome a versos de amor. Tomás Antônio Gonzaga, "flechado pelo Cupido", como ele mesmo disse, escreveu dezenas de poemas "líricos" para uma tal de Marília. Chamou a maioria desses versos de Liras. Lendo "Marília de Dirceu" percebi rapidamente que Dirceu não era um sobrenome, mas sim um nome próprio. Como bom leitor de Agatha Cristie, não  consegui desvendar com exatidão quem era o Dirce, precisei da ajuda de uma professora de literatura para me explicar as características do Arcadismo para compreender melhor a obra.

 

LIRA V (da primeira parte)

 

Acaso são estes

Os sítios formosos,

Aonde passava

Os anos Gostosos?

São estes os prados,

Aonde brincava,

Enquanto pastava

O manso rebanho

Que Alceu me deixou?


    São estes os sítios?

    São estes; mas eu

    O mesmo não sou.

    Marília, tu chamas?

    Espera, que eu vou.


Daquele penhasco

Um rio caia;

Ao som do sussurro

Que as vezes dormia!

Agora não cobrem

Espumas nevadas

As pedras quebradas:

Parece que o rio

o curso voltou.


    São estes os sítios?

    São estes; mas eu

    O mesmo não sou.

    Marília, tu chamas?

    Espera, que eu vou.

 

Meus versos, alegre,

Aqui repetia,

O eco as palavras

Três vezes dizia.

Se chamo por ele,

Já não me responde;

Parece se esconde,

Cansado de dar-me

Os ais que lhe dou.

 

    São estes os sítios?

    São estes; mas eu

    O mesmo não sou.

    Marília, tu chamas?

    Espera, que eu vou.

 

Aqui um regato

Corria sereno,

Por margens cobertas

De flores e Feno;

À esquerda se erguia

Um bosque fechado;

E o tempo apressado,

Que nada respeita,

Já tudo mudou.

 

    São estes os sítios?

    São estes; mas eu

    O mesmo não sou.

    Marília, tu chamas?

    Espera, que eu vou.

 

Mas como discorro?

Acaso podia

Já tudo mudar-se

No espaço de um dia?

Existem as fontes,

E os freixos copados;

Dão flores os prados.

E corre a cascata,

Que nunca secou.


    São estes os sítios?

    São estes; mas eu

    O mesmo não sou.

    Marília, tu chamas?

    Espera, que eu vou.

 

Minha alma, que tinha

Liberta a vontade,

Agora já sente

Amor e saudade,

Que sítios formosos,

Que já me agradaram,

Ah! não se mudaram;

Mudaram-se os olhos,

De triste que estou.

 

   São estes os sítios?

    São estes; mas eu

    O mesmo não sou.

    Marília, tu chamas?

    Espera, que eu vou.

 

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