ATUALIZANDO DADOS DA VIOLÊNCIA ESCOLAR

    As notícias sobre casos de violência em escolas no Brasil, tem recheado o conteúdo dos órgãos de imprensa recentemente.

    Quem anda bem informado sabe do que estou falando. Não precisa nem expor aqui uma lista de links sobre o tema, porque isso se encontra facilmente numa pesquisa na internet. Aliás acho que a imprensa explora até demais o assunto, como faz com tantos outros casos bárbaros de violência.

    Para além das notícias longínquas de casos violentos repercutidos na imprensa, presenciei (e inverti para separar) recentemente uma briga entre duas meninas na minha Escola. Em outro episódio, na mesma escola, fui chamado a acudir uma colega em meio a sua aula antes que a discussão dos alunos, com bate boca e violência verbal, chegasse as vias de fato. Na mesma turma, em ocasião anterior, neste mesmo ano de 2023 que recém inicia, um “aluno especial” agrediu outra colega professora com um empurrão.

    Sei, casos como os que testemunhei recentemente não são exatamente uma novidade nas Escolas. Alguns professores até trabalham e discutem o assunto com os alunos, no sentido de tentar prevenir novas ocorrências. Em certa oportunidade um filho meu me perguntou se na minha época de estudante havia algum “valentão” na minha escola. Respondi que sim. Meu filho continuou a indagação e perguntou quem era ele. Respondi; era eu. Ao que o menino me olhou incrédulo e desferiu: “tu não tem cara de valentão”  Numa moral dessa pequena história: os alunos alertados conseguem identificar possíveis “brigões”.

    Conversando sobre essa questão com outro estimado colega, já aposentado na ocasião, esse me argumentou que “brigas sempre existiram nas escolas”. Tudo bem, não discordo, mas isso não encerra o debate sobre a problemática que não deve ser tão facilmente banalizada. Até porque a violência de hoje já não é mais a mesma. Antes a violência escolar costumava estar mais associada a violência física entre meninos. Nos dias atuais a violência inclui formas de violência psicológicas e virtuais. A briga das meninas que mencionei anteriormente, com minha intervenção e imagem, foram parar nas redes sociais. Isso é novo e mais perturbador que as experiências de violência escolar de gerações anteriores.

    Uma recente pesquisa realizada e divulgada pela organização Todos Pela Educação revela que cerca de 69% dos estudantes brasileiros já presenciaram ou sofreram algum tipo de violência na Escola. Mudou a qualidade da violência e estamos sim vivendo um aumento quantitativo dela. Ainda que tivesse diminuído os casos, o desafio permanente para os trabalhadores em educação é trabalhar para a erradicação desse mal.

    O combate a violência nas escolas é um desafio mundial. É importante destacar que essa violência não ocorre em um vácuo. Ela tende a refletir problemas mais amplos na sociedade, como a desigualdade econômica, o racismo, toda forma de discriminação de gênero ou cultural e a falta de acesso a serviços de saúde mental.

    Nesse último aspecto em particular, o contexto pós estratégias de isolamento social como forma de evitar maiores índices de disseminação da COVID-19, deixou grande parte de nossa juventude sem escola presencial e sem convívio direto. Isso além dos prejuízos de aprendizado, gerou uma potencialização de casos de transtornos psíquicos que afligiram nossos alunos. O uso de medicação, as más dosagens dela, ou até a sua abstinência, são condicionantes que afetaram o comportamento escolar e colaboraram para um aumento dos casos de violência.

    De toda a forma, a violência na escola é muitas vezes gerada fora da escola. Alunos que sofrem violência em casa, por exemplo, podem manifestar essa violência na escola, seja como agressoras, ou até como vítimas.

    Por fim cabe salientar que o atual estado de sucateamento do ensino público no Brasil não ajuda a diminuir o aumento de casos de violência no ambiente escolar, se é que não colaboram para sua proliferação. A notória falta de recursos humanos (com a devida capacitação) que atendam as necessidades dos alunos, geram déficits que extrapolam da pior maneira possível no comportamento dos educandos.

    Educação se faz com investimentos. Precisamos de investimentos em infraestrutura e em políticas públicas para a prevenção e combate a violência nas escolas. E na elaboração dessas políticas os professores precisam ser ouvidos e consultados. A continuidade da sistemática implementação de pseudo soluções elaboradas por quem não conhece a realidade escolar não colabora para melhorias na educação brasileira. A violência é um problemão atualmente. Que não seja apenas matéria de jornal ou conteúdo de internet.

Professor Fábio Freitas.

Um comentário:

  1. Outra violência que preciso abordar em outro relato é o bulling. Tive muita experiência com isso no ambiente escolar.

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