O CRESCENTE FÉRTIL

Estudamos história partindo do que outros já estudaram. Na verdade toda a ciência faz assim hoje em dia. O professor de história, historiador, arqueólogo e egiptólogo estadunidense, James Henry Breasted, foi um grande influenciador dos estudos históricos com seu livro “Antiguidade: Uma história do Mundo Antigo”, publicado pela primeira vez em 1916, onde propôs o termo “crescente fértil” para se referir a região do planeta onde seus estudos apontavam estarem localizadas as ruínas e evidências das mais antigas cidades e impérios da história.

Essa região se estendia desde o vale do rio Nilo, passando pelo rio Jordão, Eufrates e Tigre, chegando até o início da elevação do planalto do Irã, englobando territórios dos atuais Egito, Israel, Síria, Líbano, Jordânia, Turquia e Iraque.

A explicação para a criação e utilização dessa expressão, começa pelo desenho de sua configuração em mapas, onde se observa uma forma curva que lembra a lua crescente vista do hemisfério norte, onde a região se localiza e onde também teriam se desenvolvido os primeiros e mais antigos estudos astronômicos conhecidos, daí a expressão “crescente”, somada ao fato de ser no passado uma região úmida e propícia às práticas agrícolas, levou a criação do termo “crescente fértil”.

Os apontamentos do professor Breasted, circulam muito até os dias de hoje entre acadêmicos do mundo inteiro, especialmente na América e Europa, que vão além em suas conclusões e afirmam ser essa a região do planeta onde surgiram e se desenvolveram pela primeira vez na história, além da agricultura, a urbanização, a escrita, o comércio, a ciência e a religião organizada como a conhecemos hoje em dia. Por tudo isso, dizia o professor, a região do antigo crescente fértil era o “berço da civilização”. Vemos aqui uma utilização do conceito de civilização, tomada do antropólogo Lewis Henry Morgan. Como disse antes, estudamos história a partir do que outros já estudaram.

Fato é que essa região acabou atraindo para si muitas populações humanas que ali encontraram condições para se estabelecerem e prosperarem graças ao desenvolvimento de uma economia agrícola com produção de excedente. Entre esses inúmeros povos, alguns são mais conhecidos e estudados como os Sumérios, apontados como os fundadores das mais antigas cidades da história. Não existe uma certeza sobre qual seria a mais antiga cidade da humanidade. Talvez Eridu, ou talvez Ur, (ambas hoje sítios arqueológicos) mas as principais opções levam aos sumérios que teriam fundado 12 cidades na “baixa mesopotâmia”.

A palavra “mesopotâmia” vem do grego e significa “entre rios”. É uma clara referência à região entre os rios Tigre e Eufrates, que compreende basicamente o território do atual Iraque. Essa é a porção mais oriental do crescente fértil e os sumérios a primeira cultura urbanizada (ou civilizada) que ali se desenvolveu, foram habitantes da parte mais ao sul dessa região, onde os rios se encontram e por fim desaguam no mar (Golfo Pérsico).

Os Sumérios influenciaram decisivamente outros povos que também vieram se estabelecer na região e que acabaram adotando importantes criações culturais sumérias como a escrita cuneiforme (provavelmente a mais antiga forma de escrita da humanidade), o tijolo de barro, a roda (de oleiro) e os estudos astrológicos. As histórias e a literatura suméria teriam influenciado inclusive os textos do antigo testamento judaico.
A escrita cuneiforme acabou sendo decifrada e hoje pode ser lida, graças aos estudos de pesquisadores como o alemão Georg Grotenfend e o inglês Henry Rawlinson, ambos do século XIX. O sítio arqueológico nos arredores da atual cidade iraquiana de Mosul, na margem oriental do rio Tigre, (antiga alta mesopotâmia), onde ficava a cidade de Nínive fundada pelos assírios, é um dos locais onde mais se escavam as placas de argila com os textos cuneiformes, já que ali nessa localidade, teria sido criada a primeira biblioteca da história, a biblioteca de Nínive.

Os assírios, fundadores da antiga Nínive, tiveram sua primeira capital na cidade de Assur, também às margens do alto rio Tigre. Foram outros dos mais conhecidos povos da antiga Mesopotâmia. Tudo indica que os assírios montaram o primeiro exército regular da história. E um senhor exército. Com tropas de arqueiros e lanceiros, cavalaria e carros de combate, por volta de 1300 anos a.C. iniciaram sua expansão imperial dominando a Mesopotâmia e outros territórios e povos do crescente fértil. Ficaram conhecidos também pela crueldade com que tratavam os vencidos na guerra, praticando entre outras torturas e técnicas de execução a empalação dos inimigos.

Entre tantas conquistas militares dos assírios não podemos deixar de falar da conquista da Babilônia, aliás não dá para falar da Mesopotâmia sem falar na icônica Babilônia, cidade fundada pelos amoritas por volta do III milênio a.C. e que por volta de 1728 - 1686 a.C. era a maior cidade do mundo com seus 50 mil habitantes. A Babilônia teve sua era de glória dominando as cidades sumérias e acádias, constituindo um grande império.

Enquanto a parte oriental do crescente fértil vivia essa dinâmica de sucessão de povoamentos, com guerras e revezamentos no controle político, a parte ocidental da região experimentou a maior estabilidade política com o Império Egípcio que se tornou o mais duradouro desses antigos impérios. Embora contemporânea das mais antigas “civilizações humanas", a história do Egito antigo merece uma abordagem específica de sua experiência histórica.

 

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