Na minha história de vida, tão logo aprendi a ler e escrever, desenvolvi o gosto de enviar cartas pelo correio. Mandava para primos, tios e a avó, da parte da minha mãe, que tinha se afastado deles para trabalhar e viver longe, onde criou a mim e a meus irmãos. Especialmente no natal e ano novo, tinham uns cartões que eram vendidos nas agências dos correios que vinham com imagens bonitas e inscrições de felicidades, terminados com a célebre sentença: “são os votos de ...” Lembro a primeira vez que vi um cartão desse tipo, me questionei no ato: como assim, “votos de boas festas"? Pois é, faz tempo que entendi que votos são manifestações de intenção, de desejo íntimo, de sentimento pela realização de alguma coisa desejada.
Tão logo completei meus 16 anos, o que ocorreu após a promulgação da constituição de 1988, que ampliou o direito ao voto aos dessa minha saudosa idade, tirei meu título de eleitor e comecei então a dar outros votos. Primeiro nas antigas cédulas de papel depositadas em urnas de lona e finalmente nessa incrível, inovadora e as vezes caluniada tecnologia nacional, a urna eletrônica.
Logo mais vim morar e estudar história em Santa Maria onde finquei pé. Lugar bom de viver. Aqui aprimorei conhecimentos, entre os quais os relacionados a fascinante cultura ateniense antiga, que tinha na utilização dos votos o fundamento do funcionamento das suas assembleias democráticas e na sua original e inusitada prática do ostracismo. Bom todo mundo sabe, na democracia ateniense os votos eram importantes e de certa maneira até um privilégio, pois nem todos podiam votar.
Na perspectiva história o direito ao voto, desde a antiguidade clássica, até os dias de hoje, assumiu várias tipologias, entre as quais podemos citar, numa sequência mais ou menos cronológica, baseada na experiência brasileira, o voto censitário, o voto aberto, o voto a cabresto, o voto universal, o voto secreto, o voto obrigatório, o voto de protesto, o voto útil e por final o voto que abomino, o voto que gostaria de ver extinto e que motiva essa postagem na esperança de desestimulá-lo, mesmo ciente da dificuldade que isso representa, o voto inválido, sob suas duas formas o voto em branco e o voto nulo.
Sei não é fácil votar, como não é fácil tomar decisões difíceis e da mesma maneira é fácil se desiludir com decisões passadas e é frequente a decepção com votos dados e não correspondidos. Sei nosso sistema político, dito democrático, é imperfeito e carece de muitas melhorias. Mas como diz o sábio ditado popular, não dá para jogar a criança fora com a água suja da banheira. Não é sábio, nem construtivo de nada, desperdiçar o poder do nosso voto, por mais limitado que seja ele e o nosso sistema político. O direito ao voto foi negado no passado a grande maioria da população que o conquistou a duras penas. Possuidores desse direito, temos é um dever de fazer bom uso dele. É até uma questão de consideração e de reconhecimento dessa luta de tantos que vieram antes de nós e que apesar de não terem tido as mesmas oportunidades que temos hoje, nos legaram isso que precisamos valorizar, o direito ao voto. É isso na verdade, é mais que um direito, é uma obrigação. Tenho dito, a cidadania envolve direitos e deveres. Portanto votar é um esforço necessário. Como ato de cidadania é mais que um direito é também um dever.
Deixe seu comentário aqui
ResponderExcluir