A ÁFRICA ORIENTAL

Dando continuidade a nossa proposta de desvelarmos alguns capítulos significativos da história da África, vamos nos ater agora a região oriental, o leste do continente, em especial a região do litoral envolta pelo Oceano Índico, a partir do sul da península da Somália, até chegarmos a foz do rio Limpopo. A partir dai vamos considerar uma outra região, o sul da África (também chamada África Meridional ou África Austral).

Regionalizar parece um método eficaz e corriqueiro para conseguirmos dar conta de examinarmos e identificarmos com mais cuidado a grande diversidade socio cultural do grande continente e da mesma maneira podermos nos atentar com maior zelo as especificidade de cada lugar. Em particular essa região Índica africana tem aspectos muito próprios e interessantes. É claro que cada uma das regiões que pudermos estabelecer para estudo, do ponto de vista das ações humanas, mantiveram relações entre si da mesma maneira que se relacionavam internamente, mas para melhor sistematizar e organizar o conhecimento, volto a insistir, é melhor regionalizar.
Destaca-se nesse recorte regional a localização de cidades portuárias na faixa litorânea do continente e também de uma grande quantidade de ilhas e arquipélagos, algumas bem pequenas e difíceis de encontrar em qualquer mapa. É interessante que no passado essas pequenas ilhas funcionavam como cidades-estado, numa organização que faz lembrar da Grécia antiga espalhada pelo Mar Egeu. Algumas dessas ilhas e arquipélagos como Madagascar (a maior e mais visível nos mapas), as ilhas Aldabra, as ilhas Comores, as ilhas Maurício e as ilhas Seychelles (digo ilhas para cada uma porque são arquipélagos na verdade) hoje ainda mantém sua autonomia e são países. Outras, no entanto, como a ilha Lamu, a ilha Manda e a ilha Pate, incorporadas ao Quênia, são atualmente partes do território de outros países, cujos litorais, fazem parte dessa nossa região em questão. Mas seu passado autônomo e de interligação é fascinante pós analise e conhecimento. Quanto aos países que atualmente contém parte nesse litoral, além do Quênia, temos a Somália, a Tanzânia e Moçambique.
Desde a Antiguidade, essa costa leste da África, repleta de pequenas ilhas e da grande Madagascar como vimos, era frequentada por mercadores vindos do Sul da Arábia e até de locais mais longínquos como a Mesopotâmia, a Pérsia, a Índia e a China para ali realizarem trocas de mercadorias. Mas foram os árabes, pela sua proximidade, que tiveram maior contato com essa região e puderam mais intensamente intercambiar além de produtos, conhecimentos e ingredientes culturais.

Após a ascensão do Islã, no século VII da era cristã, a unificação árabe deu o impulso necessário a criação do Império Islâmico e ao progresso e expansão dessa civilização que rapidamente passou a controlar essa vasta rede marítima comercial, que intensificou-se e passou e possibilitar maiores e mais intensos contatos entre os povos africanos, a partir de então cada vez mais integrada pelas visitas árabes, aos povos do Golfo Pérsico, do Mar Vermelho, da Índia, da Malásia, da Indonésia e do sul da China.
Além disso, nessa imensa dinamização comercial que acompanhou o período da expansão islâmica, o papel dos portos e cidades-estado africanas estabelecidos na costa oriental passaram a ter mais importância e relevância com as suas exportações de ouro, ferro, peles entre outros produtos. Esta situação não somente assegurou a prosperidade material, mas igualmente e de modo indireto, favoreceu a disseminação da cultura árabe entre os povos africanos. O intenso contato propiciou a difusão da escrita árabe que passou a ser adotada por esses povos que usam essa escrita até os dias de hoje. A escrita árabe passou a ser utilizada pela população dessa região e serviu para deixar grafados os primeiros vestígios da língua suaíli, ou suale, ou ainda swahili (como já dito antes as traduções oferecem múltiplas possibilidades).

A língua suaíli é derivada do Bantu, antigo idioma africano que derivou em diversos idiomas atuais da África. A ramificação bantu no oriente africano tornou-se importantíssimo elemento cultural integrador dos povos da região que ainda hoje a utilizam. A partir dessa língua chegou-se a criar a expressão "cultura suaíli" para se referir a esses povos. A expressão: “Hakuna Matata” consagrada no filme “O Rei Leão” é uma expressão em suaíli e serve para exemplificá-la. Significa "não tem problema". O idioma suaíli é um importante elemento comum nessa região. Impossível falar de história da África sem mencioná-la.
Por outro lado, toda essa relação com a arábia fez com que quando os europeus (com as pioneira caravelas portuguesas a frente) chegassem nessa região, no final do século XV, desenvolvessem a ideia, equivocada, de que as próspera e deslumbrantes cidades da civilização suaíli tinham sido fundadas por árabes. A pŕopria língua suaíli era pensada como uma variação do árabe e os registros na escrita árabe só colaboravam para esse pensamento. O fato é que muitas palavras de origem árabe passaram a fazer parte do vocabulário dessa língua, mas pesquisas atuais comprovam o equívoco europeu que persistiu por muito tempo sustentando uma visão cheia de preconceitos e rótulos pejorativos em relação aos africanos insistentemente considerados incapazes de terem criado aquele mundo de exuberância e riqueza material e imaterial. Na verdade essa falsa visão desvalorativa servia como justificativa para a exploração do continente, de seus recursos naturais e de seu povo, pelos “civilizados” europeus.
 

Pare encerrar gostaria de mencionar a fonte de minhas consultas. Está tudo disponível para baixar no blog da biblioteca da UFRGS, se quiserem podem conferir:

Blog da Biblioteca Central da Urgs - Coleção História Geral da África

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