HISTÓRIA DA ÁFRICA ANTIGA


No nordeste do continente africano, o rio Nilo e seus afluentes, tem abrigado seres humanos desde os primórdios da história. Ainda hoje se encontram vestígios de antigos modos de vida de vários povos desde os planaltos da Etiópia, passando pelos pântanos do Sudão até chegar aos campos do Egito. Esses vestígios dão testemunho de diferentes tipos de culturas e organizações sociais ao longo da grande extensão dessa bacia hidrográfica e põe extensão nisso.O Nilo tem algo em torno de 6.400 quilômetros, tem aproximadamente o tamanho do raio da terra. Vamos começar fazendo o caminho inverso do percorrido pelas águas desse grande rio para encontrarmos os mais antigos impérios africanos. Partindo da foz e seguindo em direção as suas nascentes, um caminho não possível de ser navegado em toda sua extensão devido as cataratas (sem mencionar as “tribos hostis” que historicamente sempre complicaram missões exploradoras nesse sentido).
A região mais ao norte do Nilo, próximo a sua foz no Mar Mediterrâneo, é o local do surgimento de uma das mais antigas civilizações urbanizadas do mundo, o Egito. Os antigos egípcios inventaram a primeira língua escrita conhecida, gravaram-na em pedras e em outra brilhante invenção sua que é o papiro. Com essas técnicas de escrita os egípcios puderam escrever a própria história e a deixarem para a posteridade. Entre os principais registros históricos egípcios estão a pedra de Palermo, com escrita hierográfica (tem gravados todos os nomes dos mais antigos governantes desde a época pré-dinástica até a V dinastia do período chamado antigo império) e também o famoso papiro de Turim, com a escrita hierática (espécie de versão simplificada do hierográfico, também tem uma relação dos faraós do Egito até o tempo de Ramsés II). Embora a língua do Egito tenha se perdido em meio as transformações históricas e a língua da região hoje seja o árabe, o escritos antigos puderam ser traduzidos graças a chamada pedra de Roseta, um bloco de pedra com inscrições de um mesmo texto em 3 formas de escrita, o grego, o demótico e o hierográfico que então pode ser traduzido a partir do grego. O Egito foi um grande império, isso significa que estendeu seus domínios por regiões muito além de suas fronteiras físicas entendidas como a região em torno do Nilo, desde sua foz em forma de delta e repleta de ilhas fluviais, até a primeira catarata nas proximidades da cidade de Assuan (ou Assuã, ou ainda Aswan, quando falamos de uma cultura tão distante, várias traduções e grafias são possíveis), ao sul ficava o território da Núbia, os vizinhos africanos mais conhecidos do Antigo Egito.
Núbia é o nome dado a região que os antigos egípcios chamavam de Cuxe e onde fica atualmente o Sudão. Essa região compreende os territórios entre a segunda e a sexta catarata do Nilo, onde os núbios ergueram várias cidades como Kerma, Napata e Meroé que nessa sequência em tempos diferentes foram as capitais do Império Núbio (Cuxita ou ainda Kushita dependendo das traduções). A criação de gado e cabritos, desempenhava um papel significativo na vida econômica dos núbios, já que as condições para a agricultura não eram tão favoráveis como nas planícies férteis ao seu norte. Mas a riqueza do império estava na extração e manufatura de metais como ferro e ouro. Uma das hipóteses de pesquisadores é que a metalurgia na África tenha surgido primeiramente entre os núbios e dai se difundido a outros povos.
A produção aurífera núbia era umas das principais fontes de ouro do mundo antigo. O ouro núbio chegava por vias comerciais até a Ásia e Europa. Os núbios foram fortemente influenciados pela cultura egípcia com os quais sempre mantinham intenso contato, amistosos na maioria das vezes através de relações comerciais, mas também tiveram conflitos e história de dominação mútua. Primeiro foram os egípcios que dominaram os núbios, em outro tempo os núbios dominaram o Egito.
Tradicionalmente as fronteiras entre os dois impérios eram sempre bem guardadas e vigiadas. A fama de serem prodigiosos arqueiros ultrapassou os limites da África. Vários exércitos estrangeiros foram impedidos de explorar o sul do Nilo pelos arqueiros núbios. Outra característica importante da cultura núbia era o comando feminino que remonta ao matriarcado primitivo que parece ter permanecido por muito mais tempo entre esse povo. Foram várias governantes femininas, conhecidas como “rainhas-mãe” ou Kandaces, que lideravam inclusive os exército em combates. Os Núbios também desenvolveram uma forma de escrita que a exemplo dos egípcios ornamentava seus prédios públicos. No entanto essa forma de escrita ainda não foi traduzida. O fim do esplendor do Império Kushita e de suas Kandaces, ocorreu por volta do ano 325 da era cristã quando sobreveio a dominação do Império Axumita.

Localizada na costa oriental norte do continente africano, ao sul do Mar Vermelho, o planalto da Etiópia é a região onde são encontrados os mais antigos fósseis humanos. Pinturas rupestres e restos de cerâmica encontrados na região igualmente são provas da antiguidade da ocupação humana nessa área desde os tempos mais longínquos. Também é dessa remota região do mundo que tem origem plantas que muito foram usadas por culturas agrícolas humanas mundo afora, como a cana-de-açúcar e o café. Mas é a partir do quinto século antes de Cristo que a cidade de Axum tornou-se um importante centro mercantil, chegando a cunhar moedas para facilitar o comércio. A cunhagem de moedas, em particular as feitas de ouro, constituíam uma medida não apenas econômica mas também política; através dela o Estado de Axum proclamava ao mundo sua independência e prosperidade, o nome de seus monarcas e as divisas do reino estavam gravados nessas moedas e a medida que sua circulação aumentava, aumentava também a influência de Axum. O nome de vários Reis de Axum só se tornaram conhecidos graças as inscrições em suas moedas.
O comércio axumita estendeu-se para além das fronteiras africanas através do porto de Adulis no litoral do Mar Vermelho. Por esse porto mercadorias axunitas foram exportadas para vários cantos da Ásia. Entre as mercadorias de sucesso nas exportações, estavam os elefantes, domesticados e caçados com armadilhas pelos povos axunitas. Inicialmente o elefante domesticado era exportado vivo para utilização inclusive como arma de guerra por outros povos como os persas. Mas do elefante o mais importante era o marfim, que servia de matéria-prima pra incontáveis produções artesanais. A expansão comercial, que chegou a estabelecer rotas com a Índia e a China, favoreceu a expansão política do Império assumita que acabou por dominar o Império Kushita dos núbios e cruzando o Mar Vermelho impôs o poder de seus soberanos da mesma forma sobre o sudoeste da Arabia.
Inicialmente a característica religiosa
do próspero reino do planalto da Etiópia era o tradicional e corriqueiro politeísmo, mas na primeira metade do século IV o Rei Ezana se converteu ao monoteísmo judaico cristão já difundido pela arábia. Essa conversão, a que se seguiu a conversão de toda a população do Império, marcou a história desse Império. Era um Cristianismo primitivo, sem influência de Roma ou Bizâncio que vingou na região do “cifre africano”. Ainda que alguns séculos depois, os muçulmanos que estavam em processo de expansão, a pretexto de combater a pirataria no Mar Vermelho, dominassem e destruíssem o porto de Adúlis iniciando o gradativo enfraquecimento de Axum, o Cristianismo Etíope sobrevive até os dias de hoje nessa região da África.

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