Desde sua chegada ao Brasil, os portugueses demonstraram uma evidente ânsia em encontrar metais preciosos nessa nova terra. A conhecida carta de Pero Vaz de Caminha já demonstrava esse interesse português quando o autor relata ao Rei: "(...) Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal ou ferro; nem lha vimos. (...)” As notícias do ouro encontrado na América pelos espanhóis sempre serviram de estímulo a constantes esforços em organizar expedições exploratórias ao interior da colônia brasileira atrás dos desejados ouro, prata e pedras preciosas.
No entanto, foram necessários quase dois séculos de buscas para finalmente serem encontradas as primeiras jazidas relevantes nos territórios brasileiros. Coube aos bandeirantes, ligados à antiga vila de São Paulo, terra dos mamelucos (filhos de portugueses com índias), atual cidade de São Paulo, os méritos dessa descoberta. Cultuados como heróicos aventureiros que desbravaram os sertões brasileiros, bandeirantes até hoje nomeiam rodovias, praças, ruas e monumentos não só no Estado de São Paulo, mas também com muita frequência em Mato Grosso e Goiás, lugares por eles explorados e onde localizaram importantes fontes auríferas.
No entanto a imagem dos bandeirantes paulistas tem sido discutida desde a época de suas ações que incluíam caçar índios para a escravidão durante suas andanças. O apresamento indígena fornecia mão-de-obra escrava para a agricultura de subsistência e até para a exportação mesmo antes dos escravos africanos tornaram-se predominantes na economia colonial brasileira. E quando os africanos começaram a chegar em massa ao Brasil, a ponto de criarem comunidades de escravos fugitivos, coube aos bandeirantes combater e destruir quilombos. Fazendo mais alguns extras exterminando tribos indígenas hostis a capitães donatários que contratavam seus serviços, os bandeirantes completaram sua fama.
Contudo a descoberta de grandes reservas de ouro em regiões dos atuais estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, entre o final dos anos 1600 e início dos 1700, mudaram os rumos do desenvolvimento da colonização brasileira. As notícias que confirmaram as expectativas da existência do ouro no Brasil provocaram grande alvoroço em Portugal e terminaram por atrair imigrantes portugueses em massa para o Brasil e provocou grande aumento demográfico na colônia. No decorrer do início para o fim do século XVIII, durante o qual o Brasil tornou-se o maior produtor mundial de ouro a população colonial brasileira (entre brancos, negros, índios e mestiços) pulou, de aproximadamente 300 mil habirantes, para algo em torno de 3 milhões e 300 mil.
O porto do Rio de Janeiro, pela maior proximidade geográfica com as regiões mineradoras, tornou-se o principal ponto de acesso dessa nova população colonial, que incluía um contingente de escravos africanos que beirou os 2 milhões de ingressos durante o século XVIII. No mesmo porto do Rio de Janeiro chegavam as mercadorias que abasteciam a região mineradora e ocorria o escoamento da produção mineradora para a Europa. Devido a importância estratégica que assumiu durante a época mineradora, a Metrópole decidiu transferir a capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro em 1763.
A atividade mineradora provocou também o aquecimento do comércio interno na colônia, de maneira que todas as regiões sofreram o impacto dessa nova economia. Além da corrida de colonos, da chegada de escravos da África, do aporte de alimentos e de outros artigos, estabeleceu-se um verdadeiro sistema de transportes terrestres muito baseado nas tropas de mulas que pela sua rusticidade demonstraram-se muito adequadas para suprir as necessidades logísticas da economia mineradora.
A produção paulista, que anteriormente prestava-se à subsistência local, ampliou-se para abastecer os mineiros. Tropeiros vindos do Sul engrossaram as novas rotas comerciais de abastecimento das minas. Em poucos anos brotaram inúmeras vilas e cidades na região mineradora, algumas como Sorocaba tinham apenas a função de entreposto para as novas redes de comércio. Um novo ambiente urbano espalhava-se pelo interior da colônia, contrastando com as áreas açucareiras próximas ao litoral que tinham um caráter eminentemente rural.
Dentro desse contexto de diversificação econômica, aumento populacional e urbanização provocados pela mineração, ocorreu um consequente desenvolvimento cultural da colônia. Podemos dizer que no século XVIII o renascimento cultural europeu desembarcou no Brasil. Na região de Minas Gerais surgiram artistas de renome como Valentim da Fonseca e Silva (o grande mestre Valentim) desenhista e entalhador proeminente, Antônio Franciso Lisboa (o Aleijadinho) famoso arquiteto e escultor e Manuel da Costa Ataíde (mestre Ataíde) pintor e decorador destacado. Na literatura Tomás Antônio Gonzaga surge como o primeiro escritor brasileiro. Na música José Joaquim Emérico Lobo de Mesquita, organista que impressiona até os dias de hoje pelo sua desenvoltura técnica e Marcos Coelho Neto, exímio trompetista além de compositor e regente, dão provas da evolução cultural brasileira.
Por outro lado, a nova realidade social criada com a mineração gerou tensões, conflitos e revoltas importantes na sociedade colonial. A Guerra dos Emboabas entre 1708 e 1709 marcou as primeiras disputas pela posse dos novos garimpos recém descobertos e fez a Metrópole intervir para regulamentar a mineração no que resultou entre outras consequências na criação da Capitania de Minas Gerais em 1720. A revolta dos irmãos Beckman no Estado do Maranhão e Grão Pará (1684) e a Guerra dos Mascates (1710-1711) na capitania de Pernambuco, voltaram-se contra a exploração dos comerciantes portugueses, que além de inflacionar o preço de seus produtos, concentravam-se mais em abastecer as novas regiões mineradoras deixando essas mais antigas regiões desassistidas. Por fim, a revolta de Vila Rica (1720) e finalmente a Inconfidência Mineira (1789) motivaram-se contra a exploração de Portugal. A Inconfidência Mineira é frequentemente citada como como embrião das ações que levaram à separação definitiva do Brasil de Portugal e ao processo de nossa independência política.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente aqui: