O MOVIMENTO OPERÁRIO E O PENSAMENTO SOCIALISTA

gravura do século XIX
operários quebrando uma máquina.

    O trabalho assalariado é uma das grandes características da sociedade capitalista, portanto sua proliferação a ponto de tornar-se predominante na sociedade é algo recente em termos do tempo histórico total da humanidade e está intimamente ligado às consequências da revolução industrial. Antes da revolução industrial era predominante entre as sociedades mundo afora o artesanato e as atividades ligadas ao que chamamos hoje de setor primário, ou seja, a agricultura e a criação de animais,  como principais atividades econômicas. A maior parte da população sempre viveu no que chamamos hoje zona rural ou até mesmo em zonas selvagens como florestas. Embora grandes cidades tenham surgido na antiguidade, a maior parte da população dos grandes impérios não vivia nas cidades, vivia do fruto de seu trabalho e da sua família, principalmente próximo aos campos e plantações. As cidades sustentadas por essa produção primária, recolhida em forma de tributos ou através de trocas comerciais com esses campos e até mesmo com populações que viviam de extrativismos em regiões remotas ou inóspitas, desenvolveram-se principalmente como centros de trabalho artesanal especializado. 

    Foi na Europa a partir dos séculos XII e XIII, com o desenvolvimento do comércio e a popularização do uso do dinheiro, que grande número de artesãos tiveram a opção de abandonar a agricultura e viver nas cidades da venda de seus produtos. Tecelões, metalúrgicos, sapateiros, carpinteiros, marceneiros, oleiros entre tantos outros trabalhadores especializados no que se designava de ofícios, passaram a viver e a aumentar a população das cidades, produzindo não mais apenas para si, sua família ou sua aldeia, mas desse momento em diante para abastecer uma população que crescia e tomava a forma de pequeno mercado consumidor em expansão. A nova população urbana europeia ficou historicamente conhecida como burguesia e esses artesãos especializados que viviam da venda das mercadorias que produziam eram parte importante e significativa dessa nova classe social, eram a burguesia artesanal.

    A burguesia artesanal possuía os meios de produção (era proprietária da oficina e das ferramentas) e trabalhava com a família em sua própria casa, realizando todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria prima até o acabamento final. Com a evolução dos negócios os artesãos passaram a arregimentar ajudantes, inicialmente não assalariados, mas na condição de aprendizes que poderiam tornar-se um “mestre no ofício” com a experiência que adquiriram ao trabalhar para artesãos experientes e por vezes renomados. Concluído o período de aprendizado, caso não tivesse condições de abrir sua própria oficina, o aprendiz podia tornar-se ‘jornaleiro’ (‘diarista’) e continuar trabalhando para o mesmo mestre, recebendo um salário, ou tentar conseguir emprego em outra oficina. Dessa maneira o trabalho assalariado desenvolveu-se sob o controle da burguesia nas pujantes cidades europeias a partir dos fins da Idade Média.

    O controle do processo de difusão do trabalho assalariado passou pela criação das Corporações de Ofício, associações de artesãos especializados  que se uniam buscando promover e proteger os interesses de sua categoria profissional. Essas associações burguesas regulamentavam o exercício dos ofícios, estabelecendo normas e diretrizes que diziam respeito à hierarquia, à formação, ao treinamento de profissionais, às horas de trabalho, salários, preços e principalmente à proteção contra a concorrência desleal de outras cidades ou países.

    Com a expansão das atividades comerciais, principalmente a partir do século XV, devido ao alargamento do comércio tanto rumo ao Oriente quanto em direção à América, a importância e o protagonismo das corporações de ofício foram abaladas. Apareceu com força a interferência da burguesia comercial, tanto na distribuição de matéria-prima, muitos vindos das colônias como na compra de mercadorias para serem revendidas fora da Europa. Para atender a crescente procura por mercadorias, tais intermediários levavam matéria-prima não apenas aos membros das corporações que, nas cidades, estavam dispostos a trabalhar para eles, mas também para os homens, mulheres e crianças das aldeias. A partir de então, cada vez mais os artesãos especializados, os mestres do ofício, donos de oficinas e manufaturas mais desenvolvidas, passaram a ser cada vez mais simples tarefeiros a serviço (assalariado) da burguesia comercial. 

    Todo esse processo de expansão e diversificação do trabalho assalariado na Europa ocorreu dentro do contexto de crise das relações feudais e do trabalho servil, com a gradativa separação do trabalhador dos meios de produção, no campo e nas manufaturas. O camponês, aos poucos expropriado, e como o artífice, transformado em trabalhador livre, viu-se obrigado a vender sua força de trabalho para sobreviver. Enfim, o domínio burguês do trabalho percorreu uma trajetória que se iniciou no crescimento das populações urbanas no fim da Idade Média, alimentado pela expansão dos mercados internacionais. O interior da Europa modificou-se com os resultados dessa expansão: a manufatura substitui o artesanato, a divisão do trabalho corporativo desapareceu diante da divisão do trabalho nas oficinas e, mais tarde, nas fábricas

    O ponto de inflexão na difusão e expansão do trabalho assalariado foi realmente a revolução industrial. Nas fábricas surgidas na Europa, a partir do século XVIII, as máquinas e motores ditaram as condições técnicas para a produção. O trabalho que antes era desenvolvido em pequena escala, no ambiente doméstico e nas pequenas oficinas, passou a ser realizado em grande escala, num espaço maior destinado especialmente a ele – a fábrica. O dono da fábrica tornou-se também proprietário da matéria-prima e das ferramentas para a fabricação dos produtos; o trabalhador passou a vender sua força de trabalho e não mais o produto acabado como no trabalho artesanal. Além de se separar dos meios de produção, no sistema fabril, o trabalhador, que antes dominava todo o processo de elaboração de um produto. Assim a nova burguesia industrial passou a ocupar uma posição de comando e controle fixo nesse processo de consolidação do trabalho assalariado.

    Mas as péssimas condições de trabalho e de vida dos trabalhadores assalariados nas primeiras fábricas, onde longas jornadas, salários baixos e falta de segurança nos locais de trabalho se somavam a condições sanitárias degradantes nos locais de moradia dessa nova população proletarizada, levou esses novos trabalhadores a recuperarem a experiência das corporações de ofício e a se organizarem em novas associações de trabalhadores que reivindicavam dos patrões e dos governos providências na proteção a seus novos “ganha pão”. Começaram a surgir assim os sindicatos como os conhecemos hoje. Abaixo assinados, boicotes e greves passaram a figurar como instrumentos de luta e organização dos trabalhadores por direitos.

    Em meio a criação dessas organizações de trabalhadores, surgiram diversas ideias e teorias sobre melhores forma de organizar a sociedade e combater os malefícios sociais provocados pela industrialização. Socialismo e cooperativismo são expressões dessas ideias desenvolvidas por trabalhadores dos países industrializados na busca do desenvolvimento de uma nova economia e sociedade marcadas por justiça social. Entre as mais recentes críticas ao processo do desenvolvimento industrial e capitalista está a degradação ambiental. Discutindo questões que passam pela inserção da mulheres no mercado de trabalho, o pensamento socialista tem evoluído marcado pela diversidade de correntes de opiniões e de organizações militantes que muito debatem e divergem sobre como seria uma sociedade mais justa e igualitária e quais os melhores caminhos para para se construir um mundo assim melhor.

 

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