NAVEGAR FOI PRECISO

Enquanto isso, no fundo do planeta Terra:
    Foi preciso primeiro perder o medo dos rios e dos perigos inerentes a ele. Foi preciso superar animais como hipopótamos e crocodilos. Foi preciso aprender a nadar. E quando surgiram as primeiras aldeias ribeirinhas foi preciso se precaver das enchentes. A partir da observação de que a madeira flutua sobre as águas, as primeiras embarcações passaram a ser esculpidas num único tronco de árvore, com os quais os humanos começaram a viajar distâncias pequenas em águas rasas. Na medida em que as aldeias tornaram-se cidades, os rios já eram o caminho mais curto entre os vizinhos mais próximos.

    Ainda usando a primitiva propulsão a remos, os homens experimentaram aos poucos viagens mais longas e águas mais profundas. Seguindo o curso das águas dos rios, os homens dirigiram-se às águas salgadas dos mares e oceanos. Novos caminhos foram acompanhados de novas tecnologias. É bem provável que a força dos ventos tenha sido usada pela primeira vez no Egito antigo, onde eles sopram constantemente na direção norte-sul. Além da energia eólica captada pelas velas, os egípcios antigos também teriam sido os primeiros a construírem grandes embarcações compostas por várias partes de madeira unidas com encaixes e cordas antes mesmo da invenção dos pregos.

  
Invento Náutico
    Dito isso, a navegação constituiu-se, desde os primórdios, no
principal meio de transporte de pessoas e mercadorias pelo mundo. É muito mais fácil mover pesadas cargas flutuando sobre as águas do que arrastá-las por terra, mesmo depois da invenção da roda. Empoderados pelas suas realizações técnicas, os humanos fizeram do mar Mediterrâneo, que liga a Europa ao norte, a África ao sul e a Ásia ao leste, um importante meio de comunicação de inúmeros povos e culturas que encontraram nesse mar um lugar relativamente seguro para navegar. Relativamente seguro porque acidentes e naufrágios eram percalços que sempre acompanharam os mais antigos navegantes. Vestígios desses naufrágios encontrados no Mediterrâneo têm ajudado os estudiosos e interessados no assunto, a entender melhor a relevância da navegação na evolução social humana.

    O primeiro naufrágio estudado no mundo foi descoberto em 1960, no sul da Turquia, na costa de Kumluca, na cidade de Antalya. O "Naufrágio do Gelidonya" foi encontrado depois que um caçador de esponjas descreveu lingotes de metal que notou enquanto mergulhava. O naufrágio, cuja carga é composta por esses lingotes de cobre, bronze e estanho, data de 3.200 anos atrás, segundo os testes de carbono aplicados ao material recolhido nesta que foi a primeira escavação subaquática do mundo, realizada de acordo com as normas de escavação arqueológica em terra. Foram encontrados entre os destroços do antigo navio, um machado de bronze, uma picareta, a âncora, lanças, utensílios agrícolas e de cozinha, além de achados de metal, descritos como sucata, o que forneceu indícios de que as pessoas daquela época reciclavam os metais como fazemos hoje em dia. A escavação do Gelidonya deu início aos estudos de arqueologia subaquática aplicada, a partir de então, em todo o mundo, acompanhadas de novas tecnologias desenvolvidas para esse fim.

    Em 1984, nas mesmas águas do mar da Antalya, hoje pertencentes à Turquia, foi descoberto aquele que agora é considerado o mais antigo naufrágio do mundo,o Naufrágio do Uluburun, datado em 200 anos mais antigo que o naufrágio do Gelidonya. O Uluburun é descrito como "uma das maiores descobertas do século" e os trabalhos de escavação duraram onze anos. Após milhares de mergulhos, artefatos incomparáveis ​​como lingotes de cobre foram trazidos à luz. Igualmente inúmeras “pastilhas” redondas de vidro, consideradas as matérias-primas mais antigas do mundo, nos mostram que o comércio do vidro era feito naquele período, em forma de “pastilhas” que eram adquiridas e posteriormente moldadas por seus compradores. Além disso, dentes de elefante e hipopótamo, flechas de bronze, pontas de lança e cunhas também foram extraídos do naufrágio.

    O estudo desses naufrágios ajudou a compreender melhor as práticas comerciais da antiguidade bem como o modo de vida das pessoas daquele tempo. O excesso de carga combinado com prováveis tempestades, que teriam surpreendido os navegantes, são apontadas como prováveis causas desses naufrágios. Talvez não tenha sido bem isso, mas é muito, muito provável mesmo, que os marinheiros do Uluburun nunca mais tenham regressado às suas casas e certamente a carga transportada por ele deixou de ser entregue.

+ Histórias Prof Fábio  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente aqui: