CAMINHOS DAS RELIGIÕES


tábua de barro mesopotâmica

    Observando o ser humano ao longo do tempo histórico, nos deparamos com traços e características típicas do nosso ser, dentre as quais destaca-se a curiosidade inerente.

    O ser humano sempre buscou e continua buscando saber, conhecer, entender o mundo em que vive para poder melhor intervir e se virar nele. Os humanos e percebemos muito bem isso nas nossas crianças, são extremamente questionadores e tão logo aprendem a palavra “porquê?” fazem uso constante dela. A busca em compreender o universo que nos cerca resultou no desenvolvimento de uma inteligência subjetiva. Essa inteligência, sedenta de compreensão, abriu os caminhos da nossa trajetória histórica. Uma curiosidade natural e destemida que permitiu aos homens dominarem o fogo, a agricultura, a metalurgia, a eletricidade a energia nuclear, a manipulação dos genes e sabe-se lá o que mais vem pela frente.

    Debruçando-se sobre a análise das culturas primitivas, o antropólogo britânico Edwart Burmelt Tylor criou o conceito de “animismo” segundo a qual os primeiros humanos interpretavam a realidade atribuindo a tudo o que existia uma força espiritual (uma âmima) que embora não fosse visível, era onde se encontrava a verdadeira essência das coisas. Assim todos os animais, as plantas, até as pedras, os rios, tudo, até um artefato produzido pelas mãos humanas, a partir do momento em que passava a existir, tudo, possuía uma espírito, ou seja, uma imaterialidade imanente. Portanto, para se entender o mundo como um todo era preciso decifrar o comportamento das ânimas que o compunham. A compreensão animista da realidade marcou o surgimento dos primeiros ritos e rituais humanos, percebidos nitidamente nos sepultamentos e até mesmo nas pinturas rupestres, onde identificamos atos humanos propositais repletos de significados simbólicos. Nos sepultamentos é muito comum encontrar os corpos na chamada posição fetal, com os joelhos abraçados próximos ao peito. Nas pinturas das paredes das cavernas, geralmente em locais profundos, iluminados por fogueiras, animais caçados eram retratados em paredes repletas de marcas de pontas de lanças.

    Outro caminho mais comum para explicar o surgimento dos rituais, do desenvolvimento de pensamentos metafísicos e finalmente a formação de estruturas religiosas, parte do mesmo ponto da busca humana em entender o mundo, mas chega a outro conceito igualmente importante e anterior a religião, o mito. Dê onde vem a mandioca? Qual o origem do beija-flor? Como surgiu a erva-mate? Para cada explicação uma história; um mito. Os mitos presentes nas culturas primitivas, pretendiam explicar mais do que o mundo material, os mitos davam sentido e talvez tenham nascido da tentativa de explicar um fenômeno humano específico: os sonhos. Os mitos tomaram forma de narrativas e nos mais antigos grupos humanos existiam pessoas que se especializavam em catalogar, guardar e contar essas histórias. Essas pessoas com sua habilidade especial de dar explicação e sentido para tudo, eram pessoas que gozavam de muito prestígio social pois suas habilidades eram de interesse público.

    Considera-se que dos mitos que explicavam os fenômenos da natureza como a chuva, o terremoto, a erupção do vulcão, uma estrela cadente,etc... Surgiram a crença em deuses. Diferentes culturas humanas, das mais antigas e em lugares diferentes e distantes desenvolveram, por exemplo, o costume comum de adorar o sol como um Deus. Da mesma forma para muitas culturas, a morte era, senão um Deus, um espírito maligno. Interessante a teoria do historiador norte americano Lewis Munford, que em seu livro: A cidade na História, defende a ideia de que a cidade dos mortos ou necrópole como se chamavam os ancestrais do que hoje conhecemos por cemitério, tenha precedido e estimulado a criação da cidade dos vivos, ou simplesmente das cidades como conhecemos hoje. Realmente os rituais de sepultamento eram realizados em lugares específicos, visitados periodicamente pelos grupos humanos. Nada mais justo que quando ocorreram as condições para se viver em cidades, que essas se estabelecessem perto de onde ficavam os mortos do grupo.

    Quando as populações humanas iniciaram seu desenvolvimento urbano, com a criação do excedente de produção e o desenvolvimento da especialização do trabalho, os contadores de mitos foram, aos poucos, dispensados do trabalho produtivo e por fim transformaram-se em sacerdotes e na maioria dos casos, tornaram-se os governantes entre os homens, pois entendiam melhor do que os outros como o mundo funcionava e como conseguir atrair energias positivas para proteger o grupo, como cuidar das doenças e dos doentes e por fim como tratar os mortos. Foram nas aldeias e especialmente nas cidades, onde surgiram as religiões como as conhecemos hoje, com templos erguidos em homenagem aos deuses e com uma hierarquia de sacerdotes especializados em dizer quem eram e o que queriam esses deuses. Digo esses deuses, porque as religiões mais antigas nasceram da crença na existência em várias divindades, ou seja, as mais antigas religiões eram politeístas. Dai até o advento do monoteísmo é outra história que merece outro texto para não alongar demais esse que se encerra aqui.


Professor Fábio Freitas

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