A REPÚBLICA BRASILEIRA EM TRANSFORMAÇÃO

Propaganda eleitoral de 1930
Cartaz da Aliança Liberal
    É impossível contar a história do Brasil República sem mencionar a figura ilustre do presidente Vargas. Não é exagero, nem mera visão apaixonada, afirmar que Getúlio Vargas foi o mais importante presidente brasileiro do século XX, período no qual o Brasil foi o segundo país do mundo que mais se desenvolveu, ficando atrás apenas da URSS. São fatos, como diriam os positivistas que imprimiram a expressão “ordem e progresso” em nossa bandeira. Podemos argumentar para defender essa ideia, que estamos falando do presidente que dirigiu o Brasil pelo maior tempo: 15 anos inicialmente de 1930 a 1945 e mais 4 depois de 1950 a 1954, totalizando 19 anos como chefe de Estado. Foi um tempo de governo mais longo que o de Dom Pedro I. Até os dias de hoje, só Dom Pedro II ficou mais tempo que Vargas no poder no Brasil.
    Getúlio Vargas, a frente do poder executivo do país, acompanhou, apoiou e patrocinou mudanças importantes em nossa vida política, econômica e social. O Brasil em 1930, quando começou a chamada “era Vargas” era um e em 1954, no fim trágico dessa história, era outro. Passamos de um país ruralizado com a maioria da população composta de analfabetos, para um país cheio de industrias e com uma grande população urbana. Sem deixar de ser um dos maiores produtores de alimentos do planeta, o Brasil com Vargas começou a soberanamente extrair petróleo do seu subsolo e a refinar esse produto. Nossa pauta de exportações era muito mais diversificada e nossas necessidades de importações eram muito menores em 1954 se comparadas com os índices de 1930.
    Mas sem atropelos, antes de falarmos de 1930 e o começo dessa história, uma breve menção a 1929. Foi um ano que precedeu importantes eleições federais na jovem República dos Estados Unidos do Brasil. Eleições gerais para Presidente, Governadores, Senadores e Deputados Federais. Eleições que transcorreram em meio aos desdobramentos da grande depressão econômica mundial de 1929, marcada pelo crack da bolsa de valores de Nova York, cujo principal efeito para o Brasil foi a queda nas exportações do nosso principal produto para o mercado externo, o café. Diante das dificuldades do setor cafeeiro, o então presidente Washington Luís, do Partido Republicano Paulista (PRP), quebrou a lógica do “café com leite” e ao invés de indicar um sucessor do segundo maior colégio eleitoral do Brasil, Minas Gerais, indicou outro correligionário para sua sucessão, o então governador de São Paulo (maior colégio eleitoral do Brasil) Júlio Prestes.
    Contra o continuísmo paulista na presidência e a manutenção das políticas econômicas que protegiam a produção do café, comprado e queimado pelo governo federal, para diminuir os prejuízos do setor, opuseram-se as oligarquias mineiras, riograndenses e paraibanas. Cada qual abrigada dentro do Partido Republicano de seu estado, que compuseram a Aliança Liberal para disputar as eleições. A Aliança Liberal apresentou a sua chapa com os nomes de Getúlio Vargas para presidente e João Pessoa para vice. No entanto a dinâmica da primeira república brasileira persistiu e o candidato oficial do presidente, mais uma vez ganhou as eleições e derrotou, como de costume, a oposição.
    A derrota não foi surpresa para ninguém. Falhas e defeitos no sistema eleitoral da época, ainda atrelados a cultura do voto censitário, foram apontados pelos membros da Aliança Liberal que já na campanha defendiam mudanças que ampliassem a participação popular nas eleições e garantissem maior lisura no processo com a criação de uma Justiça Eleitoral para conduzir as eleições que eram, na época, controladas pelo poder executivo, que usava o poder que tinha para impor suaa vontade e fazer como queria sua sucessão.
    Episódios de violência marcaram o pleito de 1930. Um dos casos de maior repercussão foi o chamado "Atentado de Montes Claros", na cidade desse nome em Minas Gerais, onde poucos dias antes da eleição marcada para 1º de março, no dia 6 de fevereiro, uma passeata de adeptos de Júlio Prestes foi dissolvida a tiros. Segundo informações oficiais, os tiros partiram da residência de João Alves, um dos líderes da Aliança Liberal, contra a caravana do candidato rival que passava em frente à sua residência. O ministro da Justiça Viana do Castelo reportou 5 mortos e 14 feridos. Alguns dos feridos morreram alguns dias depois. Entre os feridos estava o então vice-presidente da República Fernando de Melo Viana, que levou três tiros no pescoço, mas sobreviveu. Seu secretário particular, Rafael Fleury da Rocha, ficou entre os que tombaram mortos no local.
    Mesmo após o pleito, enquanto o resultado oficial, que habitualmente demorava um pouco mesmo, não saia, outros casos de violência foram registrados. Em 3 de abril, no centro de Belo Horizonte, partidários da Aliança Liberal foram dispersados a tiros no chamado "Atentado da Rua Espírito Santo". Os tiros partiram da residência de Manuel Tomás de Carvalho Brito, que fora uma das vítimas do "Atentado de Montes Claros". Porém na sua versão apresentada as autoridades investigativas, Carvalho de Brito garante que sua casa é que foi alvejada. Mesmo após o encerramento das eleições o clima era tenso em todo o Brasil e rumores de um levante proliferavam.
    Com certeza existiam muitos exaltados, especialmente entre os derrotados que tinham sido apoiados por membros do chamado movimento tenentista, formado por jovens oficiais das forças armadas que durante toda a década de 1920 pretendiam mudanças na República Brasileira.
    Nesse contexto, em 22 de julho, após a declaração oficial da
Morte de João Pessoa
O pretexto para o levante.
vitória da chapa de Júlio Prestes e do seu vice (outro paulista que não cito o nome para não sobrecarregar de informações o texto), o assassinato de João Pessoa, por motivos pessoais e alheios as tensões políticas, foi utilizado como pretexto para os derrotados revoltados com a situação, iniciarem uma ação armada contra o governo federal. O assassinato de João Pessoa foi atribuído aos paulistas apoiadores de Washington Luís e Júlio Prestes. Fake News, como se diz hoje, mas fake que pegou. Por certo que a ação armada que se iniciaria após a morte do líder político paraibano (que passou a dar nome a capital de seu Estado) foi orquestrada e planejada com antecedência. Diz-se que o político gaúcho Osvaldo Aranha comprou armas da Tchecoslováquia para armar seus apoiadores em favor de Getúlio.
Revolta na Paraiba.
Paraiba convuncionada.

    Em 3 de outubro de 1930, no período da tarde, em Porto Alegre, iniciou-se o levante armado que foi chamado pelos seus líderes de “revolução de 1930”, com a tomada do quartel-general da 3ª Região Militar. Ataque este comandado por Osvaldo Aranha e Flores da Cunha. Lideres militares ligados ao tenentismo começaram ações em outros estados tomando de assalto governos estaduais. Getúlio embarcou num trem em Porto Alegre com apoiadores armados e partiu em direção ao Rio de Janeiro, Distrito Federal da época.
Um trem revolucionário.
Getúlio rumo ao poder.
    Lideres militares paulistas, como grande parte da população brasileira, também apoiaram o golpe em marcha no Brasil. Antes de Getúlio chegar na capital federal, em 24 de outubro, formou-se a Junta Governativa, pelos três ministros militares Tasso Fragoso, Mena Barreto e Isaías de Noronha que a frente de tropas leais prenderam Washington Luís e o conduziram ao Forte Copacabana, onde permaneceria até novembro e dali partiria para o exílio na Europa. A Junta Governativa esperou a chegada de Getúlio Vargas em 3 de novembro e entregou a ele o comando do Governo Provisório. Getúlio chegou ao poder nesse dia com amplos apoios e poderes. A Constituição de 1891 foi revogada por decreto, o resultado das eleições foi cancelada por decreto. Novos governadores dos Estados foram nomeados por decretos. A República brasileira nunca mais seria a mesma.

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