O NASCIMENTO DA CIÊNCIA

    

Lentes para observação

    No longo caminho da evolução cultural humana, nossos
antepassados precisaram engendrar muitas soluções para superar os desafios que se apresentavam para a nossa sobrevivência. Assim em tempos remotos aprendemos a fazer o fogo, a fazer cerâmica, fazer tijolos, aprendemos a utilizar uma alavanca, aprendemos a plantar, a fundir metais, a construir moradias e meios de transporte … Nenhum entre esses tantos aprendizados, indispensáveis para o sucesso de nossa espécie, foi realizada por cientistas, mas por pessoas comuns, que procuravam resolver os problemas práticos que se apresentavam a vida cotidiana. A ciência como conhecemos hoje surgiu somente no século XVII, na Europa.

    Tendo a Europa da era moderna como ponto de chegada, podemos tomar o mundo grego antigo como ponto de partida dessa jornada. A clássica cultura helenística da antiguidade nos legou além do importantíssimo Museu de Alexandria, com sua célebre biblioteca, os mais antigos nomes celebrados pelos estudiosos da atualidade. Entre tantos memoráveis gregos antigos, Aristóteles adquiriu proeminência ímpar sendo considerado na Idade Média como o maior sábio da história, tratado com uma devoção que não combina com a ideia que veio a se tornar predominante sobre ciência na atualidade. 

   Então para deixar bem claro, Ciência, palavra que deriva do latim scientia, cujo significado é "conhecimento" ou "saber", não tem a ver com achismo nem devoção. Estamos falando de um conjunto de conhecimentos empíricos e teóricos elaborados com estudos que envolvem rigorosos procedimentos metodológicos sobre a natureza, partindo de observações e descrições até chegar a explicações ou conclusões verificáveis ou comprováveis.

    Foi no contexto do renascimento cultural europeu, quando cada vez mais a compreensão da natureza passou a dar lucros e poder e quando conhecimentos de outros lugares do mundo, com destaque para o sistema numérico indo-arábico, começaram a chegar na Europa que o legado grego antigo passou a ser retomado, não mais como conjunto de verdades inquestionáveis, mas como ponto de partida para novos estudos. Portanto o nascimento da ciência teve muito a ver com a mentalidade burguesa e com o fortalecimento do poder das monarquias nacionais.

    Os pensadores da época renascentista entenderam, diferentemente dos ensinamentos da Igreja Católica que dominavam a vida cultural europeia na alta idade média, que nem todas as verdades já haviam sido descobertas e criticando os entendimentos dogmáticos dos pensadores antigos e professores teólogos medievais, buscaram novas respostas para explicar os enigmas do mundo e controlar a natureza.

    Nicolau Copérnico (1473-1543) foi um precursor dessa nova atitude intelectual inquieta, sistematizando a teoria heliocêntrica, que afirmava que a terra era um humilde planeta que girava em torno do Sol, contrapondo-se os ensinamentos tradicionais da era medieval, baseadas na teoria geocêntrica apoiada no entendimento antigo do grego Ptolomeu, que afirmava que o sol, a lua e os demais planetas giravam em torno da terra.

    Galileu Galilei (1564-1642), por sua vez, contrariou a tese de Aristóteles de que uma pedra mais pesada deveria chegar antes no chão se fosse lançada ao mesmo tempo e da mesma altura de outra pedra mais leve. Galileu fez várias experiências para chegar a conclusão de que Aristóteles nem sempre tinha razão no que dizia. As conclusões de Galileu resultaram no desenvolvimento do método experimental, e tornaram-se o fundamento da ciência moderna. Galileu, mantendo uma atitude crítica em relação à tradição e a autoridade sobre o saber, concluiu que nenhum conhecimento deve ser tomado como definitivo, sendo sempre possível aprendermos mais sobre o mundo. Para Galileu haveria somente um caminho para compreendermos a natureza, a experimentação. Era preciso experimentar, verificar e observar os resultados. Melhor ainda se as conclusões fossem descritas em linguagem matemática. “O livro da natureza está escrito em caracteres matemáticos” disse Galileu.

    O pensador René Descartes (1596-1650) insistiu em demonstrar melhor como a matemática poderia ser utilizada para descrever o mundo. Desenhando linhas retas e curvas inventou a Geometria Analítica,. Em sua principal obra, o “Discurso sobre o método”, Descartes procurou demonstrar como o raciocínio matemático, baseado na lógica dedutiva, deveria servir de modelo para o pensamento filosófico e para todas as ciências: Se Maria é mais velha que Ana e Ana é mais velha que Júlia, então Maria é mais velha que Júlia. As conclusões da lógica dedutiva partem de algumas verdades para encontrar outras verdades. Como em latim Descartes era escrito como Cartesius, seu pensamento também ficou conhecido como racionalismo cartesiano.

    Por fim, Isaac Newton (1642-1727), o primeiro desta breve lista a viver na época do Iluminismo, é considerado o estudioso que mais ampliou os limites da compreensão humana. Matemático brilhante, Newton destacando-se mesmo foi no campo da Física. Em 1687 publicou ”Os princípios matemáticos da filosofia natural” (abreviada para "Principia"), um livro dificílimo de ler mas que fascinava os que conseguiam entender as considerações e conclusões do autor que tornou-se célebre entre os maiores matemáticos e filósofos de seu tempo. Uma das teses mais famosas de Newton foi a lei da gravitação universal, segundo a qual existe uma força de atração entre todos os objetos, o que deixa as pessoas “grudadas na terra” e também explica como é possível o movimento dos astros em torno do sol.

    Newton também estudou as propriedades da luz, demonstrando que a luz branca não era “pura” como pensavam os antigos, mas era na verdade resultante de uma mistura de várias cores. Em suma, a obra de Newton representou uma esperança de que era possível a mente humana entender todos os fenômenos do universo. Metaforicamente podemos dizer que a ciência atingiu seu amadurecimento com Newton. Ciente do lugar de seu trabalho na história da humanidade. Newton percebeu que não realizou suas descobertas a partir do nada e com modéstia declarou: “fui um anão que enxergou mais longe porque estava em cima do ombro de gigantes”, uma referência clara a pensadores que vieram antes dele e que não puderam ser todos citados nessa condensada exposição.


Professor Fábio Freitas


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