A FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS

    Quando falamos de Estados nacionais estamos nos
referindo aos países como os conhecemos hoje em dia. Um país é uma forma de organização política moderna, que se distingue dos antigos impérios por duas características básicas: Primeiro por um território, devidamente delimitado por fronteiras fixas, diferentemente dos impérios da antiguidade que tinham seus limites territoriais flexíveis na medida do poder de ação do exército imperial. Esses antigos impérios tinham sempre a tendência de alargar seus domínios e estender suas fronteiras. Eram Estados de outro tipo, que expandiam ou encolhiam com guerras de conquistas. Os Estados modernos nasceram na Europa com acordos diplomáticos que estabeleceram uma paz duradoura que garantiu a soberania permanente de um governo sobre um território. Mas é claro que para conseguir a força política necessária para celebrar um acordo desse tipo, as autoridades envolvidas tinham que ter um poder militar relevante para ser respeitado pelos vizinhos.
    O outro diferencial importantíssimo dessa nova configuração de Estado surgida nos tempos modernos foi a ideia de nacionalidade. Podemos conceituar nação como um conjunto de indivíduos que compartilham uma identidade cultural comum (língua, religião, costumes). Um povo que se reconheça como nação, habitando um território específico sob o comando de um governo soberano, são as condições para a constituição de um Estado nacional ou Estado moderno ou ainda simplesmente um país.
    Desses elementos constitutivos de um Estado nacional, com certeza o mais complexo e até controverso é a nação. Acontece que ainda existem muitas nações pelo mundo que não conseguiram se constituir como países, como os bascos na Europa ou os palestinos e os curdos no Oriente médio. Na prática hoje existem países compostos por várias nações e ainda existem nações divididas em mais de um país. Além disso, muitos símbolos nacionais foram instituídos e incentivados pelos governos que de certa maneira “forçaram” a noção de nação. A pŕopria monarquia inglesa é considerada até hoje um símbolo nacional inglês.
    Então, no final das contas, o componente mais importante na formação dos Estados nacionais foi e é o governo soberano, com amplos poderes, inclusive o de implantar e implementar ideias de nacionalidade, com seus símbolos e simbologias, ao povo subordinado a ele dentro do espaço que domina. E de todas as instituições que esses governos foram capazes de estabelecer como referência de nacionalidade, uma de suma importância foi o exército nacional que ratificou o poder estatal. Portanto, ainda que tenha se tornado usual o termo Estado Nacional, seria mais preciso falarmos simplesmente de Estados modernos.
    O cenário inicial do longo processo de formação de países, foi a Europa no contexto histórico do período conhecido como renascimento artístico e cultural ao qual podemos relacionar também um processo de renascimento urbano e sobretudo um renascimento comercial que é na verdade a “mãe” desses outros "renascimentos". Em meio ao crescente desejo das elites europeias em consumir produtos vindos do extremo oriente (como a pólvora para novas armas, o papel para os livros e os famosos temperos chamados genericamente de especiarias), surgiu uma nova classe social, a burguesia, que além de dinamizar as atividades econômicas do velho mundo acabou sepultando o velho feudalismo. Os negócios burgueses se desenvolviam demandando proteção e fornecendo tributos a nobres europeus que estimulavam e tutelavam o comércio em expansão como forma de sustentar e financiar seus próprios poderes. Assim, nobres europeus iniciaram o processo de centralização política e administrativa que resultou na fórmula modelo dos Estados modernos.
    Claro que cada país tem sua própria história, mas podemos delinear traços comuns no contexto geral da origem dos primeiro países do mundo. Um desses traços foi a liderança de membros da nobreza na indispensável tarefa de padronização das práticas comerciais. Essa liderança levou à natural adoção da Monarquia como o primeiro sistema de governo. Monarquia Absolutista para ser mais preciso. Com todos os poderes do estado concentrados nas mãos do Rei, o mercantilismo configurou-se na política econômica desses novos Estados. Sob o governo de Reis interessados na expansão marítima e comercial, surgiram os primeiros países do mundo, Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Holanda.
    No período medieval, na Europa ocidental, cada feudo tinha seus próprios sistemas para medir e dividir as partes das quantidades de massa, volume, comprimento e área dos produtos e mercadorias que usavam. Um tecido comprado em metros dos árabes podia ser vendido, dependendo do lugar na Europa, em palmos, polegadas, pés ou outro sistema inusitado. A dificuldade de converter essas medidas umas nas outras foi um importante estímulo para o apoio burguês a autoridades que estabelecesse um padrão único para essas medidas.
    Além de atender ao apelo pela padronização dos sistemas de pesos e medidas em suas nações, os Reis cunhavam as moedas nacionais e estimulavam seu uso e popularização, o que facilitou o desenvolvimento das atividades mercantis. O apoio Monárquico ao desenvolvimento do comércio no início dos tempos modernos (ou período mercantilista) também foi marcado pelo investimento em técnicas e tecnologias navais para construir embarcações maiores, com maior poder de carga e com capacidade de realizar viagens marítimas mais longas, tudo a serviço do comércio.
    Para organizar seus aparatos administrativos e consolidar seus poderes, os Reis recrutavam funcionários para a burocracia estatal e soldados para os exércitos nacionais. Tratavam de garantir a formação desses recursos humanos sob seus serviços. Criaram os importantíssimos sistemas de correios nacionais. Para melhor redigir os contratos que envolviam negócios burgueses, os governos modernos também patrocinaram o trabalho da redação das gramáticas nacionais. Contemporâneo ao surgimento da imprensa o aparecimento das ideias nacionalistas estiveram combinados com a formação do Romantismo. Da mesma forma que o sentimento do povo era retratado na literatura, esta atuava como elemento de coesão social. Os autores consagrados do Romantismo serviam como modelos de sua nação. A literatura também funcionou como um instrumento da construção da identidade nacional.

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