O vestuário é um dos principais elementos da cultura
e tem importância tanto funcional quanto simbólica para as sociedades. Graças aos elementos funcionais, o uso de roupas mais “pesadas” possibilitou aos seres humanos povoarem regiões mais frias do planeta e da mesma maneira itens de vestuário facilitaram a aclimatação humana em diferentes ambientes. Do ponto de vista simbólico, o uso de roupas diferenciadas em seus cortes, costuras, tingimentos e adornos, sempre foi usada como marca das desigualdades entre categorias e classes sociais. As classes altas sempre distinguiram-se com o uso de roupas mais requintadas. Na Europa do final da idade média, a seda por exemplo, era um tecido luxuoso, de custo elevado já que não era produzido na Europa. O desejo da aristocracia europeia em consumir, produtos adquiridos com o comércio externo, foi um dos grandes impulsionadores do processo de expansão marítima que marcou os tempos modernos.
Procurando uma rota comercial que ligasse diretamente a Europa às “Índias”, em 1492, Cristóvão Colombo chegou, sem querer e sem saber, na América. Da mesma maneira, em 1500, uma frota de navios portugueses comandada por Pedro Alvares Cabral, em viagem até ao oriente, experimentando uma rota alternativa a inaugurada em 1498 por Vasco da Gama para a Índia, chegou ao litoral do atual nordeste brasileiro. Portanto podemos dizer que o desejo de consumo das classes altas da Europa foi a causa da expansão marítima e comercial europeia que resultaram no controverso “descobrimento” do “novo mundo”.
Os países Ibéricos foram pioneiros nesse processo. Portugal que financiou, entre outras, as expedições de Vasco da Gama e de Cabral e Espanha, que financiou, entre outras, a expedição de Colombo, eram as potências mercantilistas da Europa do final do século XV e início do século XVI. As proximidades geográficas e culturais dessas nações levaram seus monarcas a firmar, entre outros, o célebre Tratado de Tordesilhas em 1494, pelo qual acertaram entre si a divisão da exploração das terras descobertas no além mar. O acordo traçava um meridiano, uma linha imaginária, a 370 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde nas proximidades da costa atlântica do noroeste africano. As terras além dessa linha imaginária (mais ao oeste) pertenceriam a Espanha e as terras a leste da linha, seriam de Portugal. Esse tratado reservou um pedacinho oriental das terras da América para Portugal. Era a gênese do que viria a ser o Brasil.
No entanto, ainda no início dos anos 1500 (século XVI), Portugal não tinha nenhuma intenção em povoar as novas terra, era preciso primeiro fazer um reconhecimento das regiões e investigar as potencialidades, principalmente comerciais, dos produtos disponíveis nesses lugares. Então esse período inicial do século XVI foi marcada pelas chamadas “expedições exploratórias” compostas por embarcações enviadas para cá com a intenção de estudar melhor a região. As primeiras descobertas foram de produtos da rica flora da mata Atlântica e da floresta amazônica, em especial a madeira de tinta para tingir tecidos de cor brasil (incluindo a seda), o pau-brasil que já era importado do oriente e agora apresentava uma outra fonte de aquisição. O extrativismo vegetal foi o primeiro negócio lucrativo praticado pelos portugueses nas terras americanas. Esse extrativismo era realizado com o apoio dos índios Tupis que através do escambo, forneciam os produtos de origem vegetal em troca de produtos de origem europeia (como tecidos e instrumentos de vidro e metal). Os Tupis se tornaram os principais parceiros portugueses no desbravamento dessas novas paragens.
Acontece que os franceses não tardaram em desenvolver tecnologias náuticas que lhes possibilitaram realizar as mesmas longas viagens de Espanha e Portugal e passaram a realizar o mesmo negócio português de importar os produtos da terra do pau-brasil. Para garantir a exclusividade na exploração das riquezas descobertas e as que se pretendiam descobrir nas terras americanas, Portugal enfim tomou a decisão de iniciar um processo de ocupação e povoamento permanente do embrião do Brasil. Nesse sentido em 1532, a primeira expedição colonizadora, comandada por Martim Afonso de Sousa fundou a vila de São Vicente (a mais antiga cidade do país) que fica atualmente na mesma ilha onde se localiza a cidade de Santos, no litoral paulista. Essa expedição trouxe, entre outros animais domésticos e mudas de plantas, as primeiras cabeças de gado e a cana-de-açúcar que ainda no mesmo século viabilizaram importantes atividades econômicas que marcaram o início da colonização brasileira. O couro do gado tornou-se no Brasil uma importante matéria-prima de confecção de itens do vestuário, como botas e chapéus, que até hoje caracterizam diferentes culturas regionais no Brasil.
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