Que relações podemos estabelecer entre o indivíduo e o coletivo?
É uma estratégia pedagógica iniciar um assunto com uma pergunta. Isso faz parte de uma metodologia problematizadora, alá Paulo Freire.
Se não fosse Cristóvão Colombo, os espanhóis teriam colonizado a América?
Eu entendo (aprendi a compreender assim) que existe uma relação dialética entre o indivíduo e o coletivo social. Por um lado a sociedade faz o indivíduo. Como seres culturais, aprendemos a a ser o que somos no convívio social. Aprendemos a língua falada e escrita, aprendemos a usar talheres, aprendemos valores e assim por diante. Claro nem todo mundo aprende a mesma coisa, nem todos tem as mesmas oportunidades para desenvolver toda sua capacidade de aprender. Mas nossa ação, no mundo que nos formou, está sempre sujeita a promover mudanças nesse mundo. É da nossa natureza alterarmos constantemente o ambiente em que vivemos.
Grandes personagens históricos, são antes de mais nada produtos da sociedade de seu tempo. Alexandre Magno só triunfou graças ao extraordinário exército macedônico. Claro que teve seus méritos pessoais e mesmo reconhecendo-os podemos apontar equívocos em sua grande trajetória, como o fato de ter-se casado com uma insignificante princesa de um reino distante no longínquo oriente.
A dialética entre sociedade e indivíduo está nessa relação onde a sociedade gera os indivíduos e os indivíduos agem transformando a sociedade. É o mundo que nos faz, ou nós fizemos o mundo? Dialeticamente falando, um pouco de cada e as duas ao mesmo tempo.
Como dizia o já citado Paulo Freire: “A educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”. E não nos esqueçamos, que a educação tem sido acima de tudo um esforço coletivo. Um direito reivindicado pelos movimentos sociais e concomitantemente manipulado pelas classes dominantes (que lógico tem uma formação e uma educação diferenciada da maioria) no sentido de a adaptarem a aparelho ideológico de Estado.
Com certeza um mundo novo, desejado melhor, deve resultar na formação de uma consciência humana nova, melhor. Mas para construirmos esse mundo melhor, precisamos forjar desde já uma nova consciência. "Tudo muda o tempo todo no mundo", já dizia Lulu Santos. As mudanças acontecem quer queiramos ou não. Essas reflexões e essa compreensão são fundamentais para que façamos nossa parte para que as mudanças apontem para uma existência mais justa e feliz para o coletivo. Ninguém é feliz sozinho.
No meu ofício de professor de história aprendi e já instiguei várias vezes questionamentos do tipo:
Se não existisse Thomas Edisom, teríamos luz elétrica hoje em dia?
Ou ainda; se Dom Pedro I tivesse morrido na infância de uma doença como varíola, hoje o Brasil seria um país independente?
Recentemente um conhecido ao encarar o questionamento se teria ocorrido a Revolução Russa sem Lênin, preferiu seguir um caminho alternativo, para chegar a uma conclusão semelhante a que proponho, alegando ele, que esse tipo de pergunta está mal formulada e que deveríamos nos questionar se haveria Lênin, se não existisse na Rússia um proletariado (e um campesinato digo eu) capaz de assumir os riscos da Revolução.
Alguns indivíduos, por circunstâncias próprias, individuais mesmo, relativas a sua formação como indivíduo único, desenvolvem a capacidade de fazer mudanças mais profundas no mundo que nos cerca. É assim que surgem grandes personagens históricos como Getúlio Vargas, que compreendeu muito bem a conjuntura histórica em que vivia e conseguiu com isso influenciar decisivamente nos rumos da nação brasileira.
Mas a difusão do helenismo não correu risco apesar dos erros pessoais desse herói. A grandeza da sociedade que produziu Alexandre e que acabou liderada por ele, foi quem garantiu a propagação de sua cultura pelo mundo antigo, até porque Alexandre não poderia ao mesmo tempo estar trabalhando na construção de prédios públicos, atuando em palcos de teatro e comandando as tropas e a diplomacia ao mesmo tempo.
Os homens fazem sua própria história e a fazem no coletivo. “Uma andorinha não faz verão” diz o ditado. Mas se não fosse Fidel Castro o que seria da Ilha de Cuba atualmente? Acho que seus vizinhos como a Jamaica, as repúblicas da ilha de São Domingos (Haiti e República Dominicana) e em especial Porto Rico, nos dão pistas, não conclusivas, a esse respeito. Mas o fato é que a sociedade cubana cunhou em sua história um líder como Fidel e este por sua vez mudou a história da humanidade naquela ilha. Hoje Cuba é uma sociedade capaz de formar indivíduos diferentes dos que existiriam se não fosse a vitória do movimento liderado por Fidel.
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