![Clara Zetkin](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcFKN7TscSf2chtXM0x52smmIWduAzP6f9cfxxM-ymU7yV_x69IUi5C0USqzx-j26Xp3ZTI9m7iIDtvLFXeKjmh_UMyXvPlamgbpcrm2KGDd4Xwog-snYz2cYryAjzTgxDRqgrQEHQA9VR/s1600/Clara+Zetkin.jpg)
Voltando a falar do 8 de março, a instituição de um dia para as mulheres é coisa recente em nossos calendários, assim como é recente o papel desempenhado por elas na sociedade contemporânea. Nos primórdios da humanidade, as mulheres tiveram um papel muito importante nos grupos sociais, principalmente antes dos homens descobrirem como os filhos eram gerados. As culturas mais primitivas desconheciam o fato de que o sexo era que gerava a prole e a procriação era encarado como um dom, um poder especial que as mulheres tinham. Nesses tempos, as mulheres eram as chefes da família e as gerações eram baseadas na linha materna. Após a descoberta da agricultura (possivelmente realizada pelas mulheres responsáveis pela coleta, que teriam observado que as sementes lançadas em determinados solos tendiam a germinar), com o surgimento da propriedade privada é que os homens passaram a ser os donos das terras, donos das famílias e as gerações passaram a ser determinadas pela linha paterna. Então a humanidade passou do matriarcado ao patriarcado. A partir dai as mulheres passaram a ter um papel secundário na sociedade e em sua maioria foram relegadas a esfera doméstica enquanto os homens cuidavam da esfera pública. Somente com o advento do capitalismo as mulheres passaram a abandonar o meio doméstico e passaram a integrar mais diretamente a economia da sociedade. Isso num primeiro momento sem mérito algum. Acontece que a mão-de-obra feminina, pela posição que as mulheres ocupavam até aquele momento, era mais barata que a mão-de-obra masculina e recrutar mulheres para o trabalho assalariado era uma maneira da burguesia alcançar maiores lucros. Então o festejado ingresso das mulheres no mercado de trabalho foi apenas uma estratégia para reproduzir o capital aumentando e redirecionando a exploração a que elas já estavam submetidas. Mas em meio ao nascimento das lutas operárias, as mulheres passaram a atuar na luta pelo fim da exploração. Da exploração do homem pelo homem e da exploração da mulher pelo homem. Então desde os fins do século XIX e início do Século XX, as mulheres passaram a participar ativamente da vida econômica e política do mundo contemporâneo. Na luta contra a exploração capitalista as mulheres fizeram passeatas, lideraram greves, atuaram decisivamente na luta pela redução da jornada de trabalho. Ao mesmo tempo enquanto se organizavam as associações e os sindicatos dos trabalhadores, as mulheres passaram a criar organizações suas para lutar por igualdade jurídica com os homens. Levantaram bandeiras próprias exigindo o direito ao voto. Na guerra civil espanhola as mulheres marcaram sua presença. Pegaram em armas também nas guerrilhas americanas que lutaram contra as ditaduras militares nas décadas de 60 e 70. Reconhecendo essa atuação destacada, em 1977 a UNESCO (Secretaria da ONU) ratificou o dia 8 de março, como o dia Internacional da mulher. Essa data que já era usada por partidos socialistas e comunistas do mundo inteiro desde 1910, quando a data foi proposta e aprovada na II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, realizada na cidade de Copenhague, Dinamarca. A defesa da criação desse dia coube a socialista alemã Clara Zetkin.
A data passou a ser utilizada como calendário de mobilização para as socialistas de vários países do mundo que em anos posteriores promoveram várias atividades nesses dias com destaque para uma greve na cidade de Nova York na Triangle Waist Company, em 1911, que vitimou fatalmente 141 mulheres; e principalmente em uma ousada manifestação em frente ao palácio do Czar em Petrogrado, na Rússia, em 1917, quando clamando por pão as mulheres russas de certa maneira ascenderam o estopim dos acontecimentos dos “dez dias que abalaram o mundo”.
8 de março, 9 de abril, 10 de dezembro não importa a data. O século XX foi marcado pela participação das mulheres nas lutas sociais contra a exploração, foi o século da integração das mulheres a vida econômica e política da sociedade contemporânea. Foi o século da luta das mulheres que fizeram de tudo para conseguir melhores condições de vida e de trabalho, não só para elas, mas para seus filhos e para as gerações futuras. A Luta das mulheres é a luta daqueles que se indignam com as injustiças sociais. O dia da mulher é acima de tudo um dia de reconhecimento ao papel que elas desempenharam e desempenham no nosso mundo contemporâneo. Não é um simples dia de homenagens melosas. É um dia de reflexão porque essa luta ainda não acabou.
Professor Fábio Freitas.