Entre 1914 e 1918 o mundo foi sacudido por um conflito
armado em proporções nunca vistas até então, mobilizando povos e tropas de todos os continentes para um enfrentamento que provocou tanta destruição e mortes que foi preciso usar novas palavras para descrever esses acontecimentos, nesse contexto começou a se usar a expressão “hecatombe” para se referir a uma grande quantidade de mortes. A Grande Guerra, ou Guerra Mundial como foi chamada na época, foi um evento grandioso, de enorme complexidade e de difícil explicação com poucos comentários. É o tipo de assunto que quanto mais se estuda mais percebemos que pouco sabemos da totalidade envolvida. Cada informação nova gera novos questionamentos. Contudo vamos a um breve resumo baseado em aspectos mais fundamentais da questão.
Primeiro é preciso traçar de alguma forma o cenário pré-guerra e entendermos em linhas gerais os principais motivos para a deflagração do conflito. De maneira geral os países que se envolveram e protagonizaram a grande guerra se prepararam previamente para ela. Altos investimentos públicos no setor militar, com o desenvolvimento de novos armamentos, manutenção e ampliação de grandes contingentes militares demonstravam que a guerra era esperada. Mas se imaginava que o conflito seria rápido e cada país apostava em uma vitória rápida sobre um potencial inimigo. Esse é o contexto que se convencionou chamar de “paz armada”.
Cada país tinha suas rivalidades e motivos próprios para desconfiar de outras nações. A origem de muitas tensões e rivalidades econômicas provinham de disputas imperialistas por colônias especialmente na África. Entre 1880-1881 e 1899-1902, as guerras dos bôeres envolvendo colonos holandeses e franceses contra tropas britânicas pelo controle de regiões da atual África do Sul, entre outros conflitos de povos africanos e asiáticos contra os conquistadores europeus, demonstravam que as nações industriais da Europa eram mais poderosas na medida em que eram mais armadas.
Claro que soluções pacíficas foram tentadas. Entre 1884 e 1885 a Alemanha sediou a conhecida Conferência de Berlim, onde os europeus acertaram minimamente a partilha da África e da Ásia entre si. Lógico que os povos sujeitos às ações neocoloniais europeias não foram consultados e demonstraram várias vezes sua inconformidade frente ao imperialismo, como no caso da Eritréia (atual Etiópia na África) e do Afeganistão (Ásia central). Enquanto se reforçava a certeza de que precisavam se armar para fazer valer seus interesses econômicos em outros continentes, a diplomacia europeia começou a traçar alianças político-militares formando dois grandes blocos de países aliados que iriam protagonizar a grande guerra.
De um lado a chamada Tríplice Entente, reunindo França, Rússia e o Reino Unido que já envolvia Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda pelo menos, e de outro lado a Tríplice Aliança formada pela Alemanha, Áustria-Hungria e Itália. A rivalidade entre esses blocos tornou-se especialmente tensa dentro da pŕopia Europa na região da península balcânica, onde três grandes Impérios agiam para expandir e consolidar seu poder A Rússia procurava expandir sua ideologia nacionalista eslava (conhecida como Pan-eslavismo) e apoiava a criação, nos Balcãs, do estado da Grande Sérvia, enquanto que a Áustria-Hungria se aproveitava da fragilidade do Império Turco-Otomano (que dominou esta região durante muito tempo) e procurava, com a ajuda da Alemanha, estabelecer um controle na mesma região, valendo-se também de uma ideologia nacionalista (conhecida como Pangermanismo). No ano de 1908, a região da Bósnia-Herzegovina foi anexada pela Áustria-Hungria, o que dificultou a criação da “Grande Sérvia”. Além disso, a Alemanha tinha interesses comerciais no Oriente Médio, em especial no Golfo Pérsico, e pretendia construir uma ferrovia de Berlim a Bagdá, passando pela península balcânica.
Conhecido como o estopim do conflito o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono da Áustria-Hungria, por um militante de viés nacionalista eslavo de uma organização chamada Mão Negra, ocorrido em 28 de junho de 1914, em Sarajevo, capital da Bósnia, incendiou as relações internacionais. A Áustria declarou guerra à Sérvia, responsabilizada pelo atentado. Em defesa da Sérvia (e do pan-eslavismo) A Rússia declarou guerra à Áustria-Hungria, logo a França ofereceu apoio à Rússia contra a Áustria-Hungria, o que fez a Alemanha declarar guerra contra a Rússia e a França. Logo a Inglaterra cumpriu seu compromisso pré-estabelecido e também declarou guerra à Alemanha.
Os estudiosos da guerra costumam dividir a guerra em 3 fases: A primeira de agosto a novembro de 1914, marcada pelo avanço de tropas alemãs sobre seus rivais vizinhos, especialmente a França e a Bélgica. Mas logo as tropas inimigas fixaram-se frente a frente, cavando trincheiras e iniciando a longa fase da guerra de posições estendida até 1918, quando iniciou a última fase do conflito, que pode ser chamada de ofensiva final. Nessa etapa a entrada dos EUA na guerra (1917) contra os países do eixo (Alemanha, Áustria-Hungria e Turquia) foi o golpe final para a vitória dos aliados (denominados Entende antes do início da guerra).
Aqui cabe destacar a ação da Itália que não cumpriu os acordos pré-guerra e não cumpriu os acordos prévios alegando que eles tinham caráter meramente defensivo e em 1915 atacou de surpresa a Áustria-Hungria a quem esperava derrotar rapidamente. Outro fato importante antes do desfecho final foi a primeira saída da guerra realizada pela Rússia, sacudida por uma revolução que destronou a sua monarquia beligerante em 1917.
A entrada dos EUA reforçou a capacidade bélica da Entente e no final de 1918, a Alemanha (e seus aliados) não tinha mais possibilidade de vencer a guerra, e a população alemã forçou o imperador Guilherme II a abdicar do trono. Posteriormente foi instalada a república na Alemanha e decretada a sua derrota militar. A Primeira Guerra Mundial matou cerca de 10 milhões de pessoas e incapacitou aproximadamente 20 milhões, arrasou campos agrícolas, destruiu indústrias, além de gerar grandes prejuízos econômicos. Certamente o evento tornou-se muito mais importante devido às suas inúmeras consequências para a organização econômica e geopolítica do mundo.
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