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Prestes no encontro com as tropas paulistas em 1925 |
Em 1924, começou um grande levante de militares insubordinados no Brasil. Seu maior líder apareceu como um cavaleiro gaúcho que carregava consigo um passado de povos guerreiros que lutaram por liberdade enquanto disputaram territórios e fixaram fronteiras com rastros de sangue no sul do Brasil.
A Coluna Prestes manteve-se em operação até 1927, com a ação de militares insurgidos contra a elite política e econômica do Brasil. Naquele tempo os rebeldes percorreram o interior do vasto território brasileiro, para enfrentar o Governo Federal, mas acabaram conhecendo a realidade da miséria e dos problemas da vida desses povos dos campos, das matas e das proximidades inundáveis dos grandes e caudalosos rios da América do Sul.
O levante passou a ser identificado pelo nome do seu maior líder, a quem se atribui a responsabilidade pelo sucesso militar e pela façanha política de um grupo de jóvens oficiais do exército brasileiro, que protagonizaram os principais acontecimentos do movimento que ficou conhecido como tenentismo na década de 1920, no Brasil.
Luiz Carlos Prestes, nasceu em Porto Alegre, em 1898, formou-se oficial do exército na então capital, Rio de Janeiro. Retornou ao Rio Grande do Sul, como 2º Tenente, em 1922, designado para servir na 1ª Companhia Ferroviária de Deodoro. Tinha como missão fiscalizar a construção de quartéis na região da cidade de Santo Ângelo, onde em 1923 recebeu a promoção, por merecimento, a patente de capitão tornando-se o chefe da Seção de Construção do 1º Batalhão Ferroviário de Santo Ângelo.
Prestes era um líder carismático e um rebelde bem articulado. Estudou e formou-se com um grupo de oficiais que, insatisfeitos com os rumos oligárquicos da República Velha, conspiravam por reformas que atendessem a necessidade de construção de uma nova forma de poder, de Estado e de Nação para o Brasil.
Com alguns sonhos que não sonhava só, Prestes partiu com suas tropas de Santo Ângelo, em 1924, trocando tiros com tropas legalistas, rompendo resistências e superando obstáculos para somar-se ao movimento de outros militares rebeldes, todos perseguidos.
Vencendo todas as dificuldades, as tropas insurgentes encontrarem-se em Benjamim Constant, no Paraná em 1925 onde criaram a 1ª Divisão Revolucionária sob o comando de Miguel Costa. Essa divisão foi organizada em duas Brigadas: a gaúcha comandada por Prestes e a “Brigada São Paulo”, comandada por Juarez Távora.
A Divisão Revolucionária dos Tenentes, nasceu em condições extremamente adversas. As tropas legalistas do presidente Artur Bernardes tinham ordens de capturar os líderes e todos os revoltosos e já os cercavam em maior número. A retirada e não o confronto direto quando em desvantagem sempre foi a tática militar de Prestes que entendia de construir pontes, de balsas, conhecimentos que usou para desenvolver sua moderna concepção de guerra de movimento:
Em carta ao correligionário General Isidoro, em 1925, Prestes escreveu:
A manobra de reorganização do movimento cercado foi idealizada e liderada por Prestes: Atravessar o Rio Paraná, percorrer 125 km pelo território paraguaio e descendo o rio reentrar no território brasileiro pelo Estado de Mato Grosso e dali se afastar da fronteira penetrando no sertão brasileiro, onde o movimento manteria acessa a chama revolucionária.
Prestes tinha uma astúcia militar combinada com um ideal coletivo que após envolver muitos participantes e simpatizantes pelo Brasil, contribuiu com seus feitos para a organização de diversos movimentos armados contra o imperialismo no mundo inteiro ao longo do século XX.
A coluna invicta de Prestes percorreu ao todo mais de 25mil quilômetros pelos sertões desse Brasil. A distância, feita a pé em sua maioria, é um feito inigualável por qualquer outro exército da história da humanidade. Mao Tzé-Tung conseguiu fazer parecido, percorrendo metade disso, (12.500 km) com sua “longa marcha”, entre 1934 e 1935, usando a estratégia guerrilheira da Coluna Prestes para tomar o poder em Pequim.
Ainda em 1925, após um combate contra 2.500 homens enviados pelo governo do Estado do Piauí com o objetivo de deter o avanço da marcha da Coluna pelo rio Parnaíba, divisa com o Maranhão, Prestes que comandava uma pequena vanguarda no momento, após conseguir derrotar e afugentar os inexperientes soldados do governo, foi promovido a general de brigada pelo general Miguel Costa, o que na prática significou a passagem definitiva do comando revolucionário para Prestes.
Prestes transformou-se no próprio simbolo da Coluna que comandou. Fez uma longa jornada ao lado de muitos companheiros que tinham por ele profunda admiração e respeito. A movimentação de Prestes pelo interior do Brasil era assunto na época. Notícias da coluna e de suas vitórias contra tudo e contra todos eram as matérias dos jornais e temas dos debates políticos de quem discutia política no Brasil daquele tempo.
Em alguns lugares desse Brasil profundo, Prestes e os integrantes da Coluna, foram recebidos e recepcionados pela população como heróis. Em Carolina no Maranhão, a cidade abrigou, homenageou e abasteceu os Revolucionários. Lá em novembro de 1925 foi editado o oitavo número do Jornal “O Libertador”, que eles publicavam desde 1924, sob o lema: “Liberdade ou Morte”. A distribuição dos exemplares desse jornal, com apoio externo, faziam circular por todo o país a propaganda ideológica baseada na critica ao presidente, seus apoiadores e ao Brasil que representavam.
Em 1926, pelo nordeste brasileiro, a Coluna enfrentou seus maiores desafios, sendo acossada por um total de 20 mil homens entre tropas do exército, Polícias Estaduais e batalhões de jagunços contratados para aniquilarem os insubordinados que com menos tropas não tinham a possibilidade de esperar, combater e vencer.
O movimento de volta ao centro do país foi o rumo traçado por Prestes. Só que isso foi feito atravessando o rio São Francisco na época da cheia. O escritor paraense Abguar Bastos faz um interessante comentário sobre esse episódio:
Em 15 de outubro de 1926 os revoltosos sempre perseguidos, entraram no estado de Mato Grosso, onde foi decidido que a marcha seria encerrada e que eles emigrariam para a Bolívia. A decisão foi tomada por várias razões, como o fim do mandato de Artur Bernardes, que seria substituído em novembro por Washington Luís. Ainda segundo Prestes, a decisão se deveu à compreensão, por parte dos comandantes revolucionários, da:
Em 3 de fevereiro de 1927, cerca de 620 homens entraram e acamparam no território da Bolívia. No dia seguinte foi lavrada e assinada uma ata por Prestes, Miguel Costa e pelo major boliviano Heliodoro Carmona, na qual se estabeleceu a deposição voluntária das armas mediante as garantias concedidas pela Constituição boliviana a toda pessoa que ingressasse no país.
A Coluna encerrou-se e entrou para a história com seu exílio na Bolívia. Prestes, no entanto, continuou vivo e lutando com outras ferramentas para tornar reais antigos sonhos de liberdade, de justiça e igualdade. A história de Prestes apenas começou com a incrível saga de sua coluna, iniciada a 100 anos atrás.
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Prestes e parte de sua tropa exilados na Bolívia em 1927 |
Professor Fábio Freitas
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