As instituições brasileiras de educação superior, principais responsáveis pela produção científica no Brasil, tem adotado a prática sistemática de armazenar seus e-mails com grandes empresas estrangeiras: o Google e a Microsoft. As secretarias estaduais de educação, grandes responsáveis pelo Ensino Médio, seguem o mesmo caminho de importar tecnologias e exportar os dados de nossa população em formação. É uma troca desigual e desvantajosa que coloca em risco a soberania nacional.
A coleta de dados é um negócio comparável a atividade do extrativismo praticada durante a exploração colonial realizada pelos europeus na América. A comparação pode ser feita tanto no que diz respeito a rentabilidade, quanto na imoralidade do negócio. Os colonizadores oferecem “bugigangas”, desconhecidas aos nativos que se encantam com as novidades exóticas e se dispõe a entregar suas riquezas pelo acesso as maravilhas que garantem o enriquecimento dos conquistadores.
Na atualidade a entrega de dados avoluma-se com a implantação de políticas entreguistas. O chat do aplicativo do governo federal, chamado SouGov, usado por servidores públicos federais, civis e militares, declara em seus termos de uso (que ninguém lê) que “Tal armazenamento tem o objetivo de prover o aprendizado de máquina da ferramenta de chat denominada ‘Watson’, onde as interações dos usuários no chat são utilizadas para ‘aprendizado’ pelo computador que envia as respostas automáticas quando o usuário está sendo atendido por meio do chat do serviço SouGov.” Isso significa que, com autorização e estímulo do governo, estamos trabalhando, sem saber, para a IBM.
O poder das Big Techs e seu controle das infraestruturas cruciais do mundo digital passa despercebido em ações como a do Tribunal de Justiça de São Paulo que pretendia implementar um sistema de Inteligência artificial com a Microsoft. Se isso vingasse todos os processos e atividades do Tribunal do Estado com a maior atividade econômica do país ficaria sobre o controle de uma empresa norte-americana com interesses diversos no país. Essa mesma empresa é submetida ao Cloud Act e a outras leis que exigem sua fidelidade aos interesses do Estado norte-americano.
Nesse cenário de invasão a Agência Nacional de Proteção de Dados “dorme no ponto” ou anda entorpecida com um destilado estrangeiro e não liga para a hospedagem de dados de membros do governo em um país com legislação incompatível com a Lei Geral de Proteção aos Dados. Se esqueceram ou nem ficaram sabendo das denúncias de Edward Snowden. Afinal, quem é esse fulano mesmo?
Recentemente um aluno me questionou em sala de aula se o “celular” pode mesmo escutar as conversas da gente ou se pode ligar a câmera sem nosso conhecimento. A questão é que ele não precisa fazer isso. Somos nós voluntariamente que colocamos nossas fotos e nossos vídeos no banco de dados das grandes plataformas. O Google sabe tudo o que digitamos em nossas buscas, quer dizer, conhece nossos interesses, sabem quem somos, do que gostamos e acima de tudo, traçando nossos perfis, sabe em quais as mentiras estamos propensos a acreditar. Conseguem facilmente nos iludir e enganar.
Estamos vivendo num mundo em que os dados são poder e soberanamente precisamos lutar para mantê-los em nosso território. Nesse contexto precisamos contrapor argumentos como “é mais barato utilizar a nuvem”, com a verdade de que “o barato sai caro”, precisamos é de “nuvens nacionais” de tecnologia nacional. “Ah. Não temos tempo para isso”, o quê? Querem controlar nosso tempo também! Precisamos agir, como pátria livre e soberana. “Tecnologia é como caneta, usamos a melhor e pronto”. Muito bem façamos uma caneta que atenda a nossos interesses e não a de nossos fornecedores colonialistas.
Enquanto isso, a Europa vive um intenso movimento pela localização dos dados que parece irreversível. Para não perder o mercado europeu, as Big Techs lançaram um produto chamado Sovereign Cloud - nuvem soberana. Já estão chegando com essa solução no Brasil. Mas as Big techs combinam duas estratégias. A primeira visa adiar, se não for possível derrotar, a pressão pela soberania digital. Para tal, contam com alguns dirigentes de mídia, articulistas e gestores públicos neoliberais.
A segunda, passa por lançar o produto da nuvem soberana e continuar mantendo as estruturas digitais fundamentais para o Big Data e para a Inteligência Artificial em suas mãos. A Oracle já lançou aqui sua “Sovereign Cloud”: “uma nuvem localizada, segura e autorizada para cargas de trabalho sensíveis e regulamentadas que atendem aos requisitos regionais…” e blá, blá, blá.
Precismos lutar contra a condição de território de extração de dados. Precisamos de um Estado que aja em prol dos interesses nacionais. Sem enfrentar a questão da soberania digital e da soberania de dados, em breve seremos tecnologicamente ultrapassados por países que estão enfrentando essa luta. Caso não consigamos criar um movimento nesse sentido continuaremos sendo consumidores de produtos e serviços criados por sistemas automatizados a partir do tratamento de dados extraídos de nossa população.
E para terminar: Use Linux. Prefira Firefox.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente aqui: