O Fascismo e o Neopentecostalismo no Brasil
Por Narendranath Martins Costaem maio de 2021
O fascismo como regime que dá forma e conteúdo a superestrutura de uma determinada formação econômico-social, tem na sua base intelectual o irracionalismo. No Brasil este irracionalismo toma por base um discurso salvacionista, onde o líder é um escolhido por deus e não pelo povo. Como os legítimos representantes de deus, para os neopentecostais são os seus sacerdotes, os ditos "ungidos", forma-se uma verdadeira hierarquia de unção. O líder é ungido e escolhido por deus para governar e os sacerdotes aceitam a suposta unção do líder. Os sacerdotes a partir disto reforçam a lealdade política de seus fiéis ao líder político. Ao mesmo tempo nos templos, convertidos em uma mistura de partido político e culto, são repetidas afirmações que buscam satanizar os adversários do grande líder e reforçar a divindade do líder político. Assim a imprensa etiquetada como de esquerda ou ainda, comunista, não pode ser mais lida pelos fiéis e se for lida, não deve ser dado crédito para a mesma. Digamos ironicamente, que esta imprensa não provém de um “lugar de fala” do bem, não provém do “lugar de fala” de onde falam os ungidos por deus. Assim os dados da verdade não importam, pois a verdade só está, e não é possível verdade, que não vinda do “lugar de fala” de seu casulo político-religioso. Assim cresce como movimento político-ideológico uma marcha rumo à perda de laicidade do Estado, misturada com a aceleração da negação das bases do que seja verdade em filosofia e em ciência. Do ponto de vista do indivíduo, este atomizado, tendo como únicas coletividades relevantes de sua sociabilidade, a família e a igreja, vira um empresário de si mesmo, guiado pelo desejo de consumo e de uma justificativa religiosa-política para sua prosperidade e/ou fracasso, devidamente justificado e legitimado pela teologia de sua fé política, misturada com sua crença religiosa. A família como a igreja, não são mais instituições, mas apenas organizações, no sentido empresarial que a administração de empresas lhe confere, buscando traçar objetivos, desdobrá-los em metas e operacionalizá-los. A aparência de prosperidade é buscada até mais do que a própria essência, pois passa a ser um sinal da escolha de deus para a salvação do indivíduo. Isto é plenamente administrado pelos sacerdotes para sua riqueza pessoal e de outros, na hierarquia religiosa, buscando sempre concomitantemente, legitimar e justificar tal riqueza, como produto de obediência a deus e com isto inculcando nos seus seguidores a ideia de necessidade de obedecer, para também ser salvos, através da possibilidade da prosperidade material.Tudo isto para a grandeza de deus? Não. Na verdade para a grandeza do indivíduo e do templo-empresa. Para a grandeza do deus dinheiro, que a tudo se equivale, sendo medida de tudo, da virtude, do amor enfim do próprio ser humano e de sua fé. O Estado-providência, deixa de ser providência, transferindo para as igrejas a providência, que pode em boa parte ser compartilhada com organizações paramilitares. As igrejas operam como partidos-religiões a contrarrevolução liberal-conservadora. Esta contrarrevolução liberal-conservadora encontra sustentação material nas frações da classe dominante que buscam a especialização da economia, que a torna uma economia quase colonial, ou colonial propriamente dita. Esta contrarrevolução associada ao crescente fascismo não pode ser compreendida sem que entremos no universo irracional das igrejas pentecostais. Esta superestrutura em reconfiguração, vai tomando forma a partir da destruição cotidiana das instituições e aparelhos de estado como o IN METRO, a FUNAI, etc. Essa destruição deixa o vácuo necessário para a ocupação das igrejas-partidos ocuparem o espaço político e de sociabilidade na fiscalização e na manutenção da ordem institucional. Este vazio pode jogar amplas partes da população para as igrejas e para as organizações paramilitares. Como tentamos expor, existe uma relação simbiótica no metabolismo autoritário que vai nascendo no Brasil, formado por uma aliança entre políticos e sacerdotes neopentecostais. Esta aliança também leva em conta organizações paramilitares e outras, mas que neste texto não serão abordadas e não desenvolveremos redação específica, apenas tangencial das mesmas. O metabolismo evangélico-fascista que está em gestão não suportará nada que não esteja dentro de seu casulo de relações físicas, simbólicas e digitais. Portanto para entender a lealdade manufaturada ao líder político fascista no Brasil, urge compreendermos os mecanismos de verdadeira cooptação das igrejas neopentecostais, que vendem uma visão fetichizada da vida e da existência, que se mistura cada dia mais ao fetichismo da mercadoria, comércio da mercadoria-fé e da fé-mercadoria. O governo que aí está é origem e desaguadouro desta contrarrevolução material e de direitos para as massas, que atomizadas, creem em um misterioso destino de prosperidade para si e para os seus, que seu líder político e seus líderes religiosos estão apontando, para os mesmos, o caminho. Líder político que portanto se converte em líder religioso e líderes religiosos que se convertem em líderes políticos. Todos marchando juntos rumo a distopia do possível. Negação das origens de classe e negação da condição nacional.
Eis os cordeiros de deus prontos para o sacrifício no altar do capital.
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