A REVOLUÇÃO AMERICANA DO FINAL DO SÉCULO XVIII

O processo de independência das 13 colônias inglesas
da América do norte constituiu-se numa verdadeira revolução ao dar origem a um sistema de governo inédito na história que influenciou a evolução política de outros países pelo mundo, pré-inaugurando por assim dizer os tempos contemporâneos, de maneira que os acontecimentos que deram origem aos Estados Unidos da América ocupam um lugar especial na História Geral.

Para tratar bem desse assunto devemos começar pelos antecedentes da colonização inglesa da América que apresentou algumas características distintas dos demais processos coloniais implantados no continente americano pelos europeus. A colonização inglesa se destacou pela ação decisiva de uma migração de refugiados religiosos que negavam-se a seguir a Igreja Anglicana encabeçada pelos reis ingleses e que por esse motivo eram desfavorecidos pelo governo. Dessa maneira grande parte dessa população não alinhada com a Igreja estatal inglesa acabou vindo para a América para construir uma nova vida. Portanto, a colonização inglesa da América do norte já trazia em seu íntimo muito sentimento de rompimento com a Monarquia inglesa.

A atitude contra o domínio da coroa britânica levou os colonos ingleses a uma desobediência sistemática ao fundamento do antigo sistema colonial, o monopólio comercial, aplicado com rigor no restante da América pelas outras monarquias colonizadoras. O monopólio comercial determinava que somente navios de bandeira da metrópole colonizadora poderiam atracar nos portos do “novo mundo” para realizar o comércio externo. Os colonos norte-americanos contrariando os “atos de navegação” (leis inglesas que regulamentavam o monopólio comercial inglês) dedicaram-se, desde o início de sua colonização, ao contrabando com outras colônias da América, fazendo também comércio na África e na Europa, da mesma maneira que recebiam sem pudor em seus portos navios e navegadores de outras partes do mundo (especialmente da Holanda), chegando a abrigar em seus territórios, piratas que pilhavam os navios espanhóis no Caribe.

As navegações clandestinas e o desenvolvimento de um comércio interno, possível pela não adoção do trabalho escravo e a preferência pelo trabalho assalariado na maioria das colônias inglesas, somada a instalação de manufaturas e por fim de indústrias, notadamente a indústria naval que produzia, entre outros, navios mercantes (Boston e Massachusetts passaram a figuram entre os maiores estaleiros do mundo no final do século XVIII), foram fatores que possibilitaram o surgimento de uma rica burguesia colonial que desempenhou papel central no processo de independência norte americana.

Essa burguesia colonial era parcela significativa de uma população originária da Europa, de onde trouxeram, além de elementos culturais, como a língua inglesa e a religião cristã, os princípios do pensamento iluminista da época, em especial a incipiente ideologia liberal que encontrou entre os colonos ingleses da América, sedentos por livrarem-se do domínio do governo inglês, um solo muito fértil para vingar, desenvolver-se e proliferar.

Mais próximos aos acontecimentos decisivos da independência norte-americana, os estudiosos do assunto sempre gostam de lembrar a Guerra dos Sete Anos (1754 - 1763), entre Inglaterra e França, que disputaram territórios nos arredores de onde hoje é a fronteira entre Estados Unidos e Canadá. Nesse conflito a coroa inglesa recrutou colonos e deu treinamento militar para eles, o que teria favorecido uma emancipação militar desses colonos. A Inglaterra venceu o conflito, mas é claro essa vitória custou caro e o problema começou quando o governo inglês quis cobrar essa conta dos prósperos colonos que já tinham pagado com a vida a vitória militar.

Os choques dos colonos ingleses contra o governo inglês acirraram e as relações deterioraram-se com as chamadas “leis intoleráveis” que na verdade eram impostos criados pelo governo inglês para fazerem os colonos pagar os gastos com a guerra. Na verdade a “Lei do selo”, de 1765, ia mais longe segundo a reclamação dos colonos e tentava estabelecer uma censura nos materiais impressos nas colônias. Sim os colonos ingleses no seu desenvolvimento já possuíam gráficas que entre outras coisas imprimiam jornais por onde as ideia iluministas em especial o pensamento liberal circulavam e difundiam-se entre a população das colônias.

No mesmo ano da promulgação da Lei do selo começaram as articulações dos colonos norte-americanos para unirem-se contra o arrocho colonial pretendido pela metrópole. Acontece que essas colônias que viriam a formar o território inicial dos Estados Unido, sempre funcionaram com muita autonomia política, tanto em relação ao governo inglês, como entre si. Então em 1765 reuniram-se na cidade de Nova York representantes das colônias para discutirem providências contra o autoritarismo inglês. A primeira reivindicação enviada ao governo inglês foi dos colonos poderem eleger representantes seus para o parlamento inglês. A negativa do pedido dos colonos levou-os em a se reunirem novamente na cidade da Filadélfia onde foi aprovada, em 04 de julho de 1776, a derradeira “declaração de independência dos Estados Unidos”. Claro que o governo inglês não acatou a declaração, muito antes pelo contrário, enviou tropas para a América para reprimir os rebeldes. Teve início a guerra de independência. Nessa guerra os colonos contaram com o apoio da Espanha e da França (que tentava se vingar da derrota na guerra dos sete anos). Em 1781 as últimas tropas britânicas foram derrotadas na América. França e Espanha continuaram enfrentando navios ingleses pelo Atlântico. Somente em 1783 um tradado de paz foi assinado (tratado de Paris) entre Espanha, França e Inglaterra que por fim reconheceu a independência do novo país.

Mas a vitória na guerra não foi o fim da revolução americana, faltava ainda construir um novo governo, tarefa que só foi concluída em 1788 com a aprovação da Constituição Americana e a eleição de George Washington como seu primeiro presidente. República Federativa Presidencialista, a criação dessa nação baseada nessa novíssima forma de governo foi a síntese da revolução americana.

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