Há quem defenda a ideia de que as crenças e práticas ritualísticas de povos nômades não possam ser chamadas propriamente de religiões. Da mesma maneira historiadores clássicos defendiam a ideia de que a história surgiu após o aparecimento da escrita e o percurso humano antes disso seria a pré-história. É claro que o desenvolvimento de uma arquitetura religiosa e a elaboração de textos sagrados, perfeitamente verificáveis nas mais antigas culturas urbanas, possibilitaram aos homens melhor organizar suas crenças e materializá-las em rituais e procedimentos mais complexos que podemos sem sombra de dúvida chamar de religião. De qualquer forma pelos registros iconográficos que temos conhecimento e pelos estudos das tradições orais antropológicos, linguísticos e etimológicos, podemos concluir que as primeiras formas de religiões e/ou protoreligiões eram, como se convencionou denominar, politeístas.
As mais antigas tradições politeístas ainda são difíceis de se qualificar como religiões, principalmente se comparadas aos modelos e as formas de religiões que vigoram no mundo contemporâneo. A religião no Egito antigo, por exemplo, é chamada simplesmente de religião egípcia, não tem nem um nome próprio. A religião dos gregos antigos é chamada de mitologia grega, parece não merecer nem o nome de religião. Nossos parâmetros de referência para o que seja uma religião hoje em dia, baseiam-se em práticas que, ainda que tenham sofrido alterações, sobreviveram a passagem do tempo com nomes próprios. Em especial as religiões monoteístas que conhecemos, apresentam-se como modelos mais completos do que seja uma religião, pois compõe-se e preservam elementos essenciais como um fundador e escritos sagrados com suas revelações sobre o único e verdadeiro Deus. As crenças monoteístas sustentam que o culto a esse único Deus é a primeira religião e que as demais religiões politeístas acabaram nascendo de desvios dessa fé original.
As fontes históricas, no entanto, encaminham um raciocínio contrário, pelo qual a crença em um único Deus teria evoluído de formas politeístas, numa trajetória cheia de altos e baixos, com avanços e recuos em relação a consolidação da fé monoteísta. Ainda nesse mesmo sentido, a quem coloque no meio desse caminho a concepção de henoteísmo, um conceito popularizado pelo orientalista e estudioso das religiões Max Müller (1823-1900) que consiste na crença em um Deus que se sobressai sobre outros que se admitam existir mas que no fim das contas tem um poder menor que o Deus maior, que não é único, é simplesmente mais poderoso e se impões sobre os demais.
As pesquisas mais recentes consideram que foi no Egito antigo, por volta de 1300 anos antes de cristo, no reinado do faraó Akenáton, que surgiu a primeira manifestação histórica do monoteísmo (ou do henoteísmo, mas na perspectiva de abandono do politeísmo). Akenatón, impôs o culto a um único Deus aos egípcios. Esse Deus se chamava Aton e por adorá-lo foi que o príncipe herdeiro, filho de Amenófis III e conhecido como o futuro Amenófis IV, tão logo tenha sido coroado em substituição ao falecido faraó trocou seu nome e adotou o título de Akenáton (que significa mais ou menos aquele que serve a Aton), com o qual entrou para a história. Foram apenas 16 ou 17 anos de reinado sob o comando de Akenáton, mas exitem suspeitas e teorias que afirmam que o monoteísmo tenha vigorado por bem mais tempo no Egito antigo. Adeptos da Ordem Rosacruz (com templo em Santa Maria) sustentam que a origem de sua organização vem desse monoteísmo egípcio. Sigmund Freud, o pai da psicanálise, tem um texto famoso, “Moisés e o monoteísmo”, em que desenvolve uma teoria de que os hebreus teriam aprendido o monoteísmo no Egito e ele vai mais longe e chega a propor a tese de que Moisés tinha origem egípcia e não hebraica.
Por volta do século VII a.C. na antiga Pérsia, surgiu outra religião monoteísta que existe até hoje o Masteísmo organizado a partir da pregação do profeta Zaratustra, (ou Zoroastro segundo os gregos) que após um auto exílio nas montanhas teria recebido a revelação do Deus chamado de Ahura-Mazda (ou Ormuz-Mazda). Essas revelações estão no livro chamado de Avesta (que não existe em versão portuguesa!). O Masteísmo (ou Zoroastrismo numa versão de origem grega) também poderia ter influenciado o monoteísmo hebreu, aja visto que tornou-se conhecido na antiguidade com a expansão do império Persa. Atualmente o popular Zoroastrismo sobrevive em pequenos grupos no Irã e na Índia.
Embora os judeus se auto intitulem os mais antigos monoteístas da história, é certo que os Hebreus mais antigos adoraram vários deuses como El, Baal e a deusa Asherah e que somente no século VI a.C. o Judaísmo se consolidou na Palestina. Nascido de uma reforma no judaísmo, o Cristianismo se difundiu pelo ocidente. Para os romanos, por muito tempo, Jesus e seus seguidores eram Judeus. Mas aos poucos os seguidores de Jesus puderam organizar uma prática religiosa original e tornaram-se um monoteísmo a parte dos judeus. Nesse caminho de difusão e de consolidação como nova forma de religião, a partir da conversão de povos politeístas, o cristianismo ocidental, católico, dirigido a partir da cidade de Roma, assumiu formas que remontam ao politeísmo (ou ao henoteísmo) com a criação do culto aos Santos e o próprio dogma a santidade de Nossa Senhora.
Por fim na arábia, no século VII da era cristã, a partir da pregação do profeta Maomé, o monoteísmo, influenciado é certo pela tradição judaica, se organiza em torno do Islã, palavra que significa submissão a Deus, agora denominado de Alá. O Islamismo veda imagens de Alá e proíbe o culto ao próprio Maomé, encarado como mero instrumento de Deus, um humano não sagrado, tão humano como todos os demais. O Islamismo, a religião monoteísta mais recente da história, é a religião que mais cresce no mundo atualmente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente aqui: