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IMPRENSA OPERÁRIA


No início do século XX no Brasil, o processo de industrialização nacional estimulou a formação do movimento operário brasileiro, quando trabalhadores das grandes cidades, passaram a organizarem-se em diversas associações com a finalidade de reivindicar melhores condições de trabalho e de vida para uma população urbana que não parava de crescer. Era o início da história sindical do Brasil. Em meio a diversos outros jornais e periódicos que informavam numa sociedade sem rádio nem televisão, entidades representativas de diversas categorias profissionais faziam circular vários impressos, periódicos e jornais. Essa imprensa operária fazia denúncias da exploração capitalista como nesse texto:

“Assistimos ontem à entrada de cerca de 60 menores às 19 horas, na sua fábrica da Mooca (bairro de São Paulo). Essas crianças, entrando àquela hora, saem às 6 horas. Trabalham, pois, 11 horas a fio, em serviço noturno, apenas com um descanso de 20 minutos, à meia-­noite! O pior é que elas se queixam de que são espancadas pelo mestre de fiação. Uma há com as orelhas feridas por continuados e violentos puxões. Tratam-se de crianças de 12, 13 e 14 anos.”

Outra matéria num, periódico anarquista, denunciava situações como:


“A estatística do ano passado registra o caso de um operário que, passando com um saco às costas ao pé de certa máquina, foi apanhado por uma peça da mesma, que lhe fraturou o crânio, determinando-lhe a morte. Esse operário tinha 13 anos. Executava um serviço que parecia leve: conduzia um saco cheio de carretéis. Mas, aproximou-se de um maquinismo que não fora instalado de modo a pôr os operários ao abrigo de acidente. E matou-o uma peça desse maquinismo.”

Instrumento das organizações de trabalhadores, essa imprensa conclamava para a luta contra o capital. O Jornal “A Voz do Trabalhador”, que circulava no Rio de Janeiro, em 1917, estampava em sua capa de 1º de maio:


Operários:

A Federação Operária no Rio de Janeiro celebra hoje o Primeiro de Maio com uma manifestação pública que partirá da sua sede à 1 hora da tarde, indo, depois de percorrer várias ruas, ao Largo de São Francisco, onde se realizará um comício dedicado a confraternização do operariado universal.”

A luta e o enfrentamento contra os donos do capital estavam nas convocações de manifestações de greves e em textos como esse:

Boicote ao industrial 

Operários!

O inumano explorador de crianças e mulheres, o comendador Matarazzo, que acumulou um capital considerável e adquiriu condecorações roubando legalmente aos trabalhadores, está pondo em prática as mais cruéis vinganças contra os operários conscientes
Na semana passada despediu da sua fábrica de tecidos, sem motivo, o camarada Conrado Bernaca e sua companheira.
Contra estas infâmias é preciso agir energicamente. Um dos meios potentes para combater este inimigo da classe produtora é a boicote
Guerra aos produtos da Matarazzo!
Ninguém compre a farinha do Moinho Matarazzo!
Ninguém consuma a banha, o óleo e os fósforos da marca Sol Levante.
Nenhum operário deve comprar nada dos estabelecimentos onde estejam expostos à venda os produtos da Matarazzo e Cia.”


Informação e propaganda socialista era o centro das temáticas dessa imprensa. A crônica a seguir é bem ilustrativa do conteúdo que circulava no meio do nascente sindicalismo brasileiro:

O Capitalista e o Assaltante



Qual é a diferença entre um capitalista e um assaltante?
Alguns dirão: nenhuma. Eu, ao contrário, acho que há tanta diferença quanto entre o dia e a noite.
O capitalista, como o assaltante vive da violência, da rapina e dos roubos; a vida de um é tão parasitária quanto a do outro, e ambos são extremamente nocivos à sociedade. Mas há uma diferença: o assaltante, quaisquer que sejam seus atos, tem pelo menos uma atenuante na miséria e no desespero. Para o capitalista não há nenhum atenuante.
O assaltante, obrigado desde o primeiro crime a fugir para não cair nas malhas de uma justiça inflexível que nunca perdoa não pode subsistir senão através
do crime. Enfrenta a represália das autoridades, se arrisca a receber uma bala pelas costas.
O capitalista, pelo contrário, não corre nenhum risco. Para nos matar ou roubar ele não precisa gritar “a bolsa ou a vida!”. Não grita, mas acaba nos roubando as duas. O capitalista fica à nossa espera em seu escritório, na sua fábrica.
O assaltante pode ser perigoso para alguns, o capitalista é perigoso para tudo e para todos. O assaltante rouba e mata para viver, o capitalista faz o mesmo para enriquecer. O primeiro rouba e mata com violência, o segundo rouba de maneira mais sutil: explorando, e mata lentamente, abrevia a vida de seus operários submetendo-os a todas as privações e sofrimentos.”



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